25, 21, ou Twenty Five, Twenty One é um dorama de muito sucesso da Netflix, publicado em 2022 e disponibilizado dublado. Eu fiquei completamente apaixonada por essa história e vou dizer o porquê.
Questões técnicas:
A história é de Kwon Do Eun, autora de Search:WWW, que foi tão elogiado na época e eu vou ser obrigada a assistir depois de me apaixonar por essa construção tão bem feita. O roteiro é bem conduzido, os personagens são bem construídos, vivos, complexos. O realismo tratado com tanta sutileza me encantou bastante. Fala-se de morte, términos e destinos pouco romantizados, como atletas que perdem, desistem, amores que não se realizam.
A narrativa é encantadora porque trata de problemas geracionais. Quem começa a história é a filha da protagonista, que encontra um diário da mãe e logo no início já percebemos as repetições das relações: a avó foi uma mãe exigente e pouco comunicativa, que escondia seus sentimentos como forma de defesa e cria uma mãe, consequentemente, mais “misteriosa” no trato com a filha.
A direção caprichada é de Jung Ji Hyun, de Você é Minha Primavera, O Rei Eterno, Mr. Sunshine e Search:WWW. Pelo menos dois desses trabalhos são carregados de delicadeza poética visual.
Geralmente não tenho tanta sensibilidade para essa parte técnica, mas o corte das cenas é bem genial. Além de transições delicadas que passam uma informação (exemplo: a personagem desmaia e, nesse instante, o equipamento de esgrima apita marcando um ponto e ficando vermelho, anunciando derrota. O barulho se confunde com o do aparelho do hospital. DEMAIS!), nunca é óbvio como vai começar um episódio. As conexões entre presente e passado são costuradas de maneira agradável, leve e informativa. O dorama não precisa de mil diálogos extensos e óbvios explicando o que vai acontecer, por que os personagens agem daquele jeito. Não, em 25, 21 você VÊ e entende. Uma cena no hospital já diz que o que acontecerá com aquela personagem, não precisa de um monte de gente chorando ou ruminando o assunto. Uma família em uma casa simples entrega muito mais que um discurso sobre a condição social da personagem. É muito bonita forma que é conduzida.
Esteticamente, há bastante nostalgia dos anos 90. É um carinho semelhante a série Reply e Hospital Playlist. Então se você foi dessa época, vai ver tanta coisa legal… (pager, salas de bate-papo, orelhão…). As músicas também trazem um ar de música coreana dos anos 90. Não pega tanto para mim, que não viveu no país, mas o estilo me lembrou os animês que eu assistia na época, aquela coisa meio vaporwave.
Elenco
Todos os personagens ganham algum desenvolvimento aqui, o que é belíssimo e especial. Nada parece ter sido colocado só para tapar buraco.
Kim Taeri (Mr. Sunshine, A Criada, Nova Ordem Espacial) me surpreendeu imensamente como Na Heedo. Ela conseguiu me convencer que era uma menina de 18 anos, mesmo tendo mais de 30 na vida real. Foi um ótimo trabalho. Só não entendo como não colocaram a mesma atriz para viver a si mesma mais velha com um pouco de maquiagem, mas enfim… Até isso dá a entender que a menina que conhecemos mudou totalmente e não é reconhecível mais. Amei que a protagonista é apaixonada por um objetivo: a esgrima. A obsessão dela pelo esporte a torna uma das protagonistas mais distintas e interessantes que já passaram na dramaland. Ela quer ser a campeã, quer ser vista, reconhecida, não apenas ser amada. Às vezes é irritante, impulsiva e explosiva? Sim, sim. Mas ela é uma adolescente! É muito de verdade. Ela é complexa, apaixonante e real.

Nam Joo Hyuk (Fada do Levantamento de Peso, School 2015) também reconquistou meu coração depois de me deixar furiosa com Start Up. Yi Jin representa uma geração afetada pela crise. Ele era de uma família abastada que perdeu tudo na crise econômica do FMI. Ele tinha tudo para ser um CEO playboy, mas, com sua condição financeira, é um rapaz gentil, introspectivo e até triste. Precisa se recolocar no mercado, visto que seus sonhos foram destruídos. Ele trabalha com o que é possível, não com o que sonhou e acaba se tornando jornalista. Sua relação com Heedo, mais nova, se dá por um olhar de resgate ao que ele mesmo perdeu. Ele se apaixona pela pureza, sonhos e espontaneidade da garota que não está nem aí pelo FMI, porque ela pode se portar assim. O jovem que possui pais como escudo sempre tem a opção de se alienar ao mundo até ter que lidar com ele. Da mesma forma, ele tenta protegê-la dos problemas para que ela não seja acometida pela apatia dele. É muito lindo como ele, com sentimentos mais maduros, percebe logo o que Heedo sente, mas ele a observa se desenvolver, sem forçar a sua maturidade nela.
Que surpresa boa é a idol Bona (do grupo WJSN) interpretando Ko Yurim, uma medalhista de ouro que é uma figura platônica idealizada pela principal. Tinha tudo para ser “a vilãzinha da série”, mas o roteiro passa longe disso, surpreende e humaniza de uma maneira brilhante a personagem, mostrando que a atletla morre de medo de ser tirada desse lugar de valor por causa do talento de Hee Do, que teve mais oportunidades na vida e privilégios do que ela, que vem de uma família pobre. A personagem podia ser tirada como monstruosa e destruída pela história em nome de um triângulo amoroso estúpido. Pelo contrário, ela ganha cores, jamais se envolve em um triângulo, enfrenta seus medos, se fortalece e vemos um show de sororidade e amizade bela que começa com um pedido de desculpas, mostrando que é possível construir relações no diálogo.
Temos outros ótimos personagens, como a treinadora (Kim Hye Yun, em O Som da Magia, Itaewon Class) e a mãe da Hee Do (Seo Jae Hee, de Artificial City, professora em Apesar de Tudo, Amor, e Run On). Ambas têm uma relação muito complexa e profunda entre si. São amigas cheias de nuances, mostrando essa dualidade que as relações adultas podem ter, nas quais você não vira a cara para o amiguinho e fica “de mal”, você até atura aquela pessoa ou aceita seu lado mau em nome do que viveram. Elas também servem como um tipo de exemplo que pode acontecer ao misturar o pessoal com o trabalho, como no caso de um jornalista e sua fonte (na vida real o jornalismo não é tão dramático assim, mas pode acontecer, principalmente a vida corrida e impossibilitante da rotina de uma redação).
O grupinho de amigos que se une tão sem querer e de repente traz uma leveza das facilidades em se fazer amigos de forma espontânea na infância. A amiga inteligente (Lee Joo Myung, de Kairos e pontinha em Hospital Playlist) e o menino da escola (Choi Hyun Wook, de Racket Boys) deixam sua marca e trazem também uma história completa de como nem sempre o “seu momento” vai ser na escola, mas pode acontecer muito tempo depois, e o contrário também. Aquela aluna brilhante da sala, no futuro, talvez não seja a mais bem colocada no mercado, pois não é só isso que conta. Ela pode ter problemas no meio do caminho, pode não ter dinheiro para bancar seu sonho. Muitas e muitas variáveis que esse dorama abraça de forma tão real.
Também é interessante demais ver como apesar de viver momentos marcantes registrados no diário, a Hee Do adulta nem se lembra de todos eles, assim como você, querido leitor que posta no tumblr, daqui 10 anos talvez não se lembre mais do drama que tirou seu sono sobre a conta que te plagiava ou daquele amigo que parou de te seguir no Tiktok. A vida é feita de momentos efêmeros e a felicidade está naquelas doses homeopáticas e intensas, que se tornam preciosas justamente por sua raridade e por serem passageiras. Tudo na vida passa, inclusive os momentos ruins e os inesquecíveis amores. Os ciclos vão renová-los, conforme você também se reinventa e as pessoas em volta de você também passam por situações que às vezes fogem de seu controle.
Conclusão

A filha de Heedo, ao ler o diário, menciona: “O que me chocou não foi a história de amor, foram os esforços dela”. Posso dizer que é isso que aconteceu comigo também e um dos aspectos mais encantadores de 25, 21. Não é uma comediazinha romântica boba. É a história daquela menina que sonha em ser uma grande esgrimista e o que aconte com ela em sua jornada, com quem se envolve e quem são essas pessoas que construíam esse seu mundo de sonhos. É sobre o ciclo da vida, o período raro, mágico e único da juventude. É sobre as experiências que vivemos na vida, que acabam em instantes e representam muito, sejam boas ou ruins, pois nos constituem para sempre, mesmo que não lembremos efetivamente delas.
No relacionamento do casalzinho de amigos, podemos ver que o foco também é esse: ama-se aquilo que se perdeu ou que se deseja ser. A diferença de idade é um tipo de viagem ao passado para YiJin. Ela representa um conjunto de oportunidades, sonhos perdidos e uma ingenuidade diante da vida que só possui quem ainda não viveu o suficiente para se decepcionar. Já para Heedo, YiJin é um pacote de objetivos, vontade de ser um adulto, aquela visão fantasiosa do emprego dele, do salário, de sua posição na vida. “Quando eu crescer vou ser isso”. O final dessa história vou comentar mais abaixo, mas a todo momento o dorama anuncia o fim mostrando as repetições de comportamento e como certas coisas só são possíveis de serem aturadas quando estamos naquele ambiente controlado e livre da maioria de responsabilidades que deveria ser uma infância ideal (e como é doloroso tomar decisões de adulto sendo adolescente por falta de condições).
Muito mais do que um filme de amor ou comédia romântica, 25, 21 é sobre juventude, sonhos e o que acontece com eles em nossa transformação para a maturidade. É sobre o que deixamos para trás de nós mesmos e de tudo aquilo que nos permeava e nos compunha em nome de nos tornarmos outra coisa, não necessariamente boa ou ruim, apenas diferente e mais velha; às vezes mais próxima do que sonhávamos aos 17, às vezes distantes, mas próximas o suficiente do que queremos na idade atual que antes era inimaginável. Podemos, inclusive descobrir que estávamos produzindo um “eu” dementira, só para viver naquele ambiente e, finalmente, ao nos encontrarmos com quem queremos ser ou somos, vamos entender que tudo aquilo não faz sentido mais.
É uma aula de amizade, de pureza e inocência, bem como um “amor arco-íris” que tão bem traduz um coração apaixonado não pelo corpo, mas pela essência, o cuidar do outro e uma fantasia de estar cuidando de parte de si. Trata de inseguranças, de pessoas tentando se encontrar, de personagens que erram e acertam. É sobre o brilho dos sonhos na vida de uma pessoa e como isso é possível (ou deveria ser) em uma certa época e como a vida nos faz desgarrar deles, mas que isso não é o fim, mesmo quando desprazeroso.
Uma joia de 2022, com certeza minha favorita do ano difícil de bater, e que vai entrar para a história como uma das mais belas histórias coreanas já escritas em dorama (e também por ter um dos finais mais polêmicos).
Comentando e explicando o final polêmico
Antes de mais nada, se você não entendeu o final de 25, 21, recomendo que assista novamente a cena final da filha da Heedo. Ela explica didaticamente a moral da história e o novo ciclo que será reiniciado, a partir dela e de suas novas experiências apaixonantes, decepcionantes e alegres.
(spoilers)
Muitas pessoas ficaram revoltadas por saber que o principal não fica com a mocinha no final. Não deveria ser uma supresa porque o nome da filha dela não carrega o “Baek”, mas ela é “Kim”. Na Coreia, você leva o nome do pai. De toda forma, vamos lá contestar a revolta.
(spoilers: avisei que tem, hein?)
Por que isso aconteceu???? Eu devolvo a pergunta: vocês ficaram com o de vocês? Os amigos da escola vivem TODOS na sua casa? Sua melhor amiga tá aí hoje? Você estava tranquilo com a possibilidade de estragar a relação ao beijar um amigo?
Muito provavelmente, a resposta para a maior parte dessas perguntas costuma ser “não” e isso pode ser muito bom. É sinal de evolução também. E, no caso específico discutido, é uma quebra de paradigma — ainda que eu ache irônico como a personagem toma uma atitude, mas acaba se relacionando com alguém que aparentemente nem no dorama aparece nenhuma vez.
Aquele discurso bonito entre eles nunca foi uma reconciliação, mas um entendimento de que o ciclo de um certo estilo de vida tinha chegado ao fim, bem como necessidades associadas. Agora, há um novo “eu” em jogo, com outras vontades e dores, que só existem porque as antigas foram supridas. Por isso a despedida triste, mas com gratidão por aquilo que foi possível se tornar graças ao outro. Gente, sentem como isso é profundo e lindo?
Eu achei brilhante e encantador, apesar de triste, sim, essa realidade tão pura de que tudo tem um fim, o que significa que há novos começos. A pessoas crescem, amadurecem, envelhecem, mudam, se transformam, e, às vezes, aqueles que estavam em volta de você não estão mais sintonizando com seus pensamentos, seus ideais e é necessário seguir em frente. Às vezes, simplesmente encontraram outro caminho próprio, que precisam de outros aliados por perto. Isso não significa que foi falso, apenas que o momento passou. Relacionamentos, todos eles, só são possíveis de serem mantidos se existe um caminho trilhado em conjunto. Do contrário, a menos que ambas as partes fiquem estagnadas, é impossível acompanhar como antes, porque, afinal, nada é como antes. Em suma, se a série te causou um incômodo, prepare-se: vai acontecer (ou talvez já tenha acontecido) com você.
Dito isso, achei 25, 21 uma verdadeira obra de arte. Um dos doramas que levarei no coração com carinho e por tal mensagem tão bem entregue em passagens tão delicadas e sutis minha nota será:
Completamente imperdível para um coração sensível.
Quem não vai gostar? Quem só quer romance fofo ou só se distrair pode achar um pouco chato. A história é lenta e cheia de sutilezas que não são simples de entender. Para esses, eu recomendo Pretendente Surpresa, que é bem mais leve, engraçado e direto. Também não deve gostar quem prefere doramas de ação, mais dinâmicos e cheios de acontecimentos. Não, 25, 21 é a o “slice of life”, fatia do cotidiano, em sua excelência.
O que ver a seguir?
Navillera é uma jornada para recuperar sonhos perdidos na velhice. É um resgate do que não foi vivido.
Para mais um dorama de esporte e amadurecimento com o Nam Joo Hyuk de protagonista, veja Fada do Levantamento de Peso.
Para mais lições de vida e reflexões sobre a vida, assista Dear My Friends.
Nossa, como eu amei esse dorama, foi perfeitamente lindo em cada momento, e envolvente!
Como eu torcia pra eles ficarem juntos.
Um amor tão puro, que parecia ser real! Um excelente trabalho dos atores!!
Chorei muito com o fim do drama, e queria muito uma continuação!
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Resenha perfeita!! Revivi as emoções e organizei os sentimentos vividos na série. Obrigada
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Resenha perfeita!! Eu amei essa série. É a minha top 3. Fiquei arrasada com o final, ao mesmo tempo, compreendi. Pois acredito que amor próprio é tudoo.
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A série é linda, tudo isso me remete ao passado que realmente fica nas lembranças e nas experiências, 25,21 e apaixonante
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Republicou isso em Sentimentos de Juliana.
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Amo a sua escrita. Amei a resenha. Parabéns! Espero que no futuro você atualize frequentemente a sua conta no Instragram, seria um sucesso!
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Resenha perfeita. Também amei a série.
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