Lutando pelo Meu Caminho (“Fight for My Way”) é um kdrama de 2017 com protagonistas interpretados por Park Seo Joon (de “Itaewon Class“) e Kim Ji Won (de “Arthdal Chronicles” e “Herdeiros”). São 16 episódios sobre a luta para encontrar seu lugar no mundo, tentando “dar certo na vida” segundo os padrões da sociedade.
Esse drama coreano muito bem podia ter sido gravado no Brasil, por ter personagens muito parecidos com os brasileiros: trabalhadores, perrengueiros do dia a dia e batalhadores, com personalidade forte e histórias pessoais que aquecem o coração. Aliás, o Brasil é mencionado varias vezes por causa do jiu-jitsu.
Por isso, antes de falar da história, o que faz de Fight For My Way memorável e muito fácil de se relacionar é o elenco central muito carismático, completo e vivo.
Choi Ae Ra sonha em ser âncora de jornal (aquela pessoa que senta atrás da bancada, dá “boa noite” e apresenta todas as notícias), mas por questões financeiras arrumou um emprego em uma loja departamento e agora sofre preconceito ao mandar currículos e participar de entrevistas (o famoso caso de querer “funcionário com experiência”, mas ninguém dá oportunidade de ter a tal da experiência). Além disso, ela constantemente acaba se comparando com uma colega da mesma época que é simplesmente a âncora mais querida do país.
Um fato interessante é que ela tem síndrome do intestino irritável, que eu nunca vi ser representada em nenhuma mídia. Essa condição é muito relacionada a stress, sobrecarga emocional e é tudo que uma mocinha de drama não quer viver, né? Que protagonista você conhece que tem a barriga estufada e fala de gases? Seguindo essa linha fora do padrão, ela mal usa maquiagem, usa roupa de camiseta de vereador e deixa para lavar o cabelo quando está brilhando de óleo. Além disso, ela mora em uma casa de aluguel de baixo custo vizinha de seu amigo de infância, sua melhor amiga e o namorado dela. Foi a primeira vez também que a atriz Kim Ji Won (vilãzinha Rachel, de Heirs, e a cirurgiã militar do Descendentes do Sol) teve um papel protagonista – e fez um trabalho muito bom.
Go Dong Man é um ex-lutador que de Taekwondo que largou tudo após perder uma luta crucial por motivos que vão muito além do esporte. Traumatizado com o fato de ter que abandonar seu sonho, não teve estudo e acabou arrumando vários bicos ao longo da vida, até que vê a oportunidade de ter uma revanche e entrar no mundo do MMA.
Os dois são melhores amigos há muito tempo e Dong Man prometeu protegê-la desde muito cedo. Com a maturidade e as novas experiências que vivem, outros tipos de sentimentos de carinho começam a ser revelados entre eles. Primeiro alerta: fuja se não gosta de história que dois amigos viram namorados. Se for o caso, pode já tirar o drama da lista, mesmo que todo o resto compense, pois tem um peso grande na trama.
Ao contrário do que possa parecer, dentro do gênero “de amigos para namorados”, Lutando pelo Meu Caminho faz um bom trabalho de construir química e como eles realmente são especiais um para o outro. Nenhum deles age de maneira psicótica ou fazendo joguinho, de maneira geral, mas não escapa muito dos estereótipos do gênero. Os dois têm outros relacionamentos, Aera tem um namorado encostado, e Dong Man possui uma ex-namorada com quem ambos têm uma relação bem complicada.
Falando só nesse aspecto, a trama parece que vai ser super melosa, mas é só uma parcela dela. Em geral, a história, apesar de ter muita comédia absurda, é pé no chão e real, com personagens muito coerentes, lembrando até mesmo Porque Esta É Minha Primeira Vida, da mesma época.
Além desse casal principal, que é o foco, temos bastante tempo de tela para a melhor amiga do casal, Baek Seol Hee (Song Ha Yoon, de Devilish Joy), que tem uma autoestima muito baixa, sendo filha de donos de uma barraca de pés de porco. Ela esconde o relacionamento com o chefe de departamento, com quem está praticamente casada, para não gerar fofocas na empresa em que trabalha. Como todos pensam que ele é solteiro, isso gera várias confusões que acabam deteriorando o casamento. (Pausa para dizer que a mãe dela é interpretada pela Lee Jun Eung, a mãe queridona de Para Sempre Camelia, atriz de Parasita, e tantos outros.) A jornada dela na história de amor próprio foi uma das que eu mais gostei, embora eu preferisse um final diferente.
Além dela, tem seu namorado, mas para mim ele é mais um acessório para desenvolvimento da Seolhee do que um personagem muito bem resolvido. Ele é um homem covarde, que sente a pressão para ser provedor, mas vive em uma fantasia de um estereótipo de feminino que lhe foi ensinado.
Ritmo
Sinceramente, precisei dar pequenas pausas pois alguns episódios parecem “iguais”. Assistir de maratona é possível, mas eu preferi espaçar. A história resolve conflitos rapidamente e cresce em você, como os personagens. Por isso não adianta ver só alguns episódios para concluir se Lutando Pelo Meu Caminho é para você ou não.
Conclusão
Fofo, apaixonante, levinho, muito engraçado e ainda assim envolvente, com mensagens delicadas importantes. Lutando pelo meu Caminho é um retrato das lutas diárias de pessoas comuns, longe do glamour, do sobrenatural, dos herdeiros chaebol e das mocinhas perfeitinhas retratadas em tantos dramas até a data em que foi lançado (2017). São pessoas que tinham sonhos, mas como a grande maioria – e isso é uma das mensagens mais importantes – não conseguiu alcançar no período ou da maneira que era esperada por eles. Mesmo assim, isso não significa que eles não tenham “dado certo na vida” a sua maneira, nem que não tenham mais tempo para conquistar novos sonhos ou sonhos repaginados.
Além disso, mesmo que a sociedade queira rotular e impor uma sequência do que precisa ser feito, a história propõe que não existe um sonho bobo, pouco importante ou simples demais. Ser o número um em algo, ter a profissão dos sonhos ou simplesmente ser mãe e ter uma família têm um peso igual. O drama enfatiza que o caminho para tal e a chama acesa no processo é mais importante que atingir os objetivos rapidamente e a vida é sobre quem está do nosso lado enquanto lutamos por eles.
O que ver a seguir?
O clima de irreverência lembra muito Itaewon Class, afinal o protagonista também é de lá e a trama é toda sobre os excluídos da sociedade, mas Itaewon tem um clima bem mais pesado do que este. Vale conferir a resenha e ver o que você acha.
Eu estou sempre recomendando esse, mas não é à toa. Porque Esta é Minha Primeira Vida realmente é legal e fala também sobre personagens cheios planos de vida que não deram certo, mas, no caso, mais focado nos relacionamentos, além de ter tramas paralelas ótimas e realistas. São do mesmo ano, inclusive.
Para conferir um dilema de “fico com meu melhor amigo ou esse menino novo da faculdade”, confira Primeira Vez Amor, na minha resenha sem spoiler da primeira parte.
Por último, recomendo Hello My Twenties, pelo mesmo ar levinho, com protagonistas jovens que enfrentam dificuldades distintas na vida de jovem adulto.
Nota: ⭐⭐⭐⭐
Eu amo demais esse drama.!!!!
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Obrigada pela recomendação. Não conhecia a série e pela sua descrição ela fala exatamente sobre o momento em que eu estou vivendo na vida pessoal/profissional. Verei!
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