Mine, ou É Tudo Meu, é uma série dramática de 16 episódios da Netflix sobre a vida de uma família rica e poderosa, em especial as esposas dos filhos dessa família. A história é estilo novelão, o makjang, e tem dublado em português.
Para começar a falar de Mine, se você não gosta de novela, daquelas bem dramáticas e exageradas, nem perca seu tempo. Por mais que tenha um mistério, esse não é nem o foco, nem a parte positiva dessa história (se você veio aqui para saber quem morre, vou deixar grafado a seguir. Agora, se você é fã de novela mexicana ou as brasileiras mesmo, pode vir que o prato é cheio, uma boa para começar nos doramas e conhecer atrizes ótimas.
(olha o spoiler)
(SPOILER: QUEM MORRE é o marido da principal)
(fim do spoiler)
A autora é a Baek Mi Kyeong, a mesma de The Lady in Dignity (que entrou no catálogo da Netflix), Me Derretendo Pouco a Pouco (no Viki), e a queridinha Mulher Forte Do Bong Soo (essa me pegou de surpresa! O estilo é muito diferente). A direção é de Lee Na Jeong, de Love Alarm (o que talvez justifique a montagem dos últimos episódios que misturam linhas temporais), Lutando pelo Meu Caminho e o ótimo Oh Minha Vênus.
Logo de cara traz um aspecto estético extravagante e luxuoso, com arquitetura imponente e looks belíssimos. O figurino é simplesmente impecável, desde os uniformes dos empregados ao estilo pessoal das personagens centrais.
Semelhanças e diferenças entre É Tudo Meu, A Cobertura e Sky Castle
Ao assistir Mine, logo notei semelhanças a dois dramas muito queridos meus: A Cobertura e Sky Castle. Por serem ambos makjang, as semelhanças vêm pela característica do próprio gênero. Farei essa comparação como forma de recomendação para quem quer algo para assistir ou já viu uma das duas.
A Cobertura: traz personagens femininas fortes, com visuais impecáveis e cenários que enchem os olhos. A trilha sonora de A Cobertura é, por motivos óbvios de trama, trabalhada de forma mais capichosa e se torna memorável. Há também um quê muito mais absurdo em A Cobertura, com personagens que ressuscitam, tramas que acabam não fazendo nenhum sentido, mas que são sempre deliciosas para assistir. Mine se leva mais à sério e se preocupa uma pouco mais em ter alguma consistência, mas talvez por isso fique evidente quando se arrasta um pouco mais em um mistério que não é tão interessante, pois é em cima de um personagem com nenhum carisma. A Cobertura ousa ao ignorar as paixões da audiência e deixar você constantemente com raiva, enquanto Mine trabalha mais com o que o espectador espera. Existe um “motim feminino” muito delicioso de ver em ambas as séries, mas em Penthouse o aspecto caótico não poupa ninguém de mudar de lado.
Sky Castle: as personagens femininas engolem os homens da série, mas ainda assim é uma delícia ver a reviravolta em cima do “pai da pirâmide”. Em Mine, sinto que todas elas são muito mais fortes, interessantes e bem escritas do que os homens, que são personagens bem sem graça e por isso acaba não tendo tanto impacto a reviravolta. Em Sky Castle, o clima é mais satírico, porém nem sempre escrachado como A Cobertura, mantendo um limite de humor e suspense. Já em Mine, o drama é predominante, aproximando-se mais de um melodrama, mas peca ao bater na mesma tecla da maternidade quase até o final mesmo quando tudo já está praticamente resolvido.
Elenco de É Tudo Meu: as estrelas do show
@damnthosewords
Lee Bo Young (Eu Ouço a Sua Voz e Mother) vive a linda esposa do segundo filho da família. Seo Hi Soo deixou a carreira de atriz para construir uma família com o marido, que já tinha um filho pequeno. Porém, tudo muda com a chegada de uma tutora em sua casa. A atriz foi muito bem escalada, porque olha, se for contar o que essa mulher sacrificou em nome da filha adotiva em Mother… Enfim, ela transmite bem a imagem de uma mãe dedicada, amorosa e uma mulher sensível que acaba percebendo estar vivendo uma mentira. É uma jornada interessante de alguém bondoso que descobre não possuir aquilo que tinha certeza na vida.
@ryn-s
Kim Seo Hyung (Sim, A tutora de Sky Castle) é uma atriz fenomenal. Ela é intimidadora, poderosa, uma tigresa, e ajuda a elevar o nível de um roteiro morno em qualquer uma de suas cenas. Jung Seo Hyun é casada com o primogênito da família e sabe liderar como ninguém. É inteligente, observadora e brilhante, mas que esconde um grande segredo em seu coração. Eu teria aplaudido em pé se a série tivesse resolvido a questão da maternidade e focasse mais nas consequências de uma escolha mais passional da personagem e então a premiasse mais por isso.
Temos também boas aparições, como a Park Won Suk, no papel de sogra insuportável, e a Ok Jayeon (The Uncanny Counter e Find Me In Your Memory), que é uma mulher feroz que acaba mostrando suas camadas. Gostei muito também da irmã Emma (Ye Soo Jung), que é um personagem muito inusitado que acrescentou bons momentos à trama (curiosidade: ela também interpreta uma freira em Mother, com a Lee Bo Young).
Ah, sim, para fãs de K-POP, o N do VIXX faz um papel como um jovem herdeiro que se apaixona por uma empregada. Gostei da história parelala do casalzinho e o fim que tudo isso toma. Dava para ser um kdrama próprio.
Crítica: o que poderia melhorar em Mine
Tanto Sky Castle quanto A Cobertura têm uma pitada de humor e carisma que por mais louca a ideia que algumas parte do roteiro pareça, você acaba cativado por estar fervendo de raiva ou completamente apaixonado por algum personagem. Em Mine, há muitos personagens mornos e alguns que parecem ter um lado só, como a filha irritante herdeira da padaria. Ela é só insuportável. Não tem nada no arco dela de desenvolvimento. Nas outras duas séries, personagens assim ganham uma virada surpreendente. Aqui, nada, só dá vontade de pular. Não é nem engraçado, é só muito incômodo repetido nos episódios.
Além dela, vários personagens parecem estagnados na mesma função do primeiro ao 16º episódio. Até é um aspecto positivo não ter tanto humor, mas o problema é que a trama aqui se desenvolve por tempo demais em torno de um grande assunto e perde o fôlego.
As duas obras supracitadas são focadas em algum tema que alimenta as brigas: estudos e música. Já Mine fica somente no núcleo familiar. Algumas pessoas podem assistir a isso e sentir que falta uma trama que engrosse esse caldo. Não tive exatamente esse problema, mas os três últimos episódios que ficam enrolando sobre um mistério são arrastados e sua conclusão não basta ser surpreendente, a questão é que eu não poderia me importar menos com o destino daquele personagem.
Inventam então um mistério que não causa comoção o suficiente como jogar uma estudante do alto de um pédio (como o primeiro episódio de Penthouse). Por causa desse mistério, perde-se uma oportunidade de desenvolver ainda mais arcos que seriam interessantes, como a empregada e sua nova vida, a tutora – que em algum momento é jogada de lado – e a vida amorosa da dona da galeria.
É uma pena porque a sorte e melhor qualidade da série é ter atrizes que cumprem o papel em dar peso, brilho e importância para suas personagens, mas acaba faltando em roteiro. O que Mine tem de apaixonante é a atuação principalmente de Lee Bo Young e Kim Seo Hyung.
O grande tema de Mine é uma problemática em torno de uma maternidade, mas teria sido interessante se questões LGBTQIA+ fossem o grande foco depois que esse tema fosse resolvido. Gostei de como trataram o tema, mas eu gostaria de ter visto mais. Mudaria tudo e seria um makjang inesquecível por esse fato – como já rendeu várias cenas parece ter agradado o público. O final até dá um gostinho e asas para a imaginação, mas fico imaginando como seria concluir esse arco com um final concreto e feliz.
Conclusão
Mine não é ruim, mas falta um impacto maior com tudo que promete. Começa muito bem, é agradável de assistir, o figurino é vibrante e chamativo para quem gosta de moda, as atrizes principais são apaixonantes e admiráveis, mas a trama começa a esfriar depois de enrolar no mesmo assunto, e os últimos três episódios são desinteressantes e arrastados, com algumas permanências de personagens que não acrescentam em nada. Apesar de tudo, as atrizes dão um show. Vale assistir se você gosta do estilo, como eu gosto, mas caso contrário, não há nenhuma chance de você gostar dessa série.
(variando meio pontinho para cima)
Recomendações
Para ver a seguir, recomendo, é claro, SKY Castle, para ver a Kim Seo Hyung bem malditinha, e A Cobertura.
Para ver mais da Lee Bo Young, procure ver Mother (2018), tem também o tema central de maternidade, mas é mais um suspense.