Porque esta é Minha Primeira Vida (2017) é um dos melhores doramas de 2017 (quiçá de todos os tempos) e uma lição sobre relacionamentos, desde os amorosos, passando por familiares e de amizade.
“Eu descobri por que os dramas que via na minha infância terminavam no momento do beijo. Porque o beijo e o casamento não são um final feliz, eles são o começo de tudo. É a partir disso que começa a realidade.”
Essa é só uma das diversas frases reflexivas incríveis de Porque Esta é Minha Primeira Vida, que não se resume ao clichê da comédia romântica de “casamento falso” e convivência que se torna amor. É quase um estudo aberto sobre relacionamentos e instituições.

Porque Esta é Minha Primeira Vida me capturou desde o primeiro episódio pela leveza da narrativa. A história é sobre uma escritora que precisa de um lugar para morar e um programador que precisa de alguém para dividir a casa. Os dois acabam se encontrando por indicação de amigos e uma confusão de gêneros por causa de seus nomes “neutros”. Após alguns incidentes, eles decidem que é conveniente para ambos se casarem de fachada, com regras contratuais como as de um aluguel. A trama então se desenvolve nos sentimentos que são despertados a partir da convivência e as dificuldades da vida adulta no desenvolvimento de cada um.
Os Personagens

Nam Se Hee (Lee Min Ki) é um programador excêntrico, fechado, seco, objetivo, centrado, extremamente pragmático e racional. Na casa dos quase 40 anos (ele tem 37), ele não acredita em sonhos e seu maior objetivo de vida é que “nada aconteça em sua vida”. As únicas coisas com as quais se importa são: sua gata, chamada Gata, e a casa onde vive.
Ele vive a pressão dos pais para se casar, mas não tem o menor interesse ou acredita em amor. Dono de uma personalidade única, Se Hee sempre diz o que pensa e suas opiniões são brutalmente realistas. Se você assistiu The Big Bang Theory, imagine um tipo de Sheldon.

Yoon Ji Ho (Jung So Min) é uma escritora assistente com quase 30 anos, cansada de somente fazer cenas com product placement (aquela mania de inserir o Subway em tudo) em doramas falidos. Com origem em uma família patriarcal, ela é deixada de lado em detrimento do irmão e a cunhada, que estão grávidos de um menino. Para piorar, ela também sofre um trauma com um colega de serviço que a faz querer largar a carreira. Sem saída e sem dinheiro, ela acaba encontrando no casamento contratual uma segurança e um local ao qual pode pertencer.
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Além do casal principal, Because It’s My First Life (2017) tem o desenvolvimento de outros dois casais, que são amigos dos protagonistas e que são igualmente explorados na história e mostram pontos de vista diferentes sobre casamento e amor.

Primeiro temos Yang Ho Rang (Kim Ga Eun) uma patricinha alegre e sonhadora que sempre sonhou com o casamento e namora há 7 anos, na esperança de ser pedida em noivado, mas sem saber se seu seu namorado, Sim Won Seok (Kim Min Suk), um desenvolvedor autônomo de aplicativos, divide o mesmo desejo. Ela é a típica mocinha de doramas escolares no que seria uma visão do “O que acontece com o casal da escola anos depois”? O aprendizado deles pode ser aplicado a muitos de nós, com relacionamentos de muitos anos, desde o colégio.
Outra amiga de destaque é Woo Soo Ji (ESom), uma jovem que sempre sonhou em ser diretora de empresa, mas esbarrou em vários obstáculos, entre eles o machismo, acabando por ser uma assalariada em uma empresa e tendo que sustentar assédios diários de seu chefe e colegas de trabalho.

Ela acaba encontrando em seu caminho Ma Sang Goo (Park Byung Eun), CEO da empresa de aplicativos onde Se Hee trabalha. Ele é um quarentão bobo, que se acha o conquistador, mas acaba aprendendo muito com ela e sendo dobrado pela personalidade forte de Soo Ji. Aqui há uma inversão de papéis clara do que é esperado do padrão homem-mulher em relacionamentos. Sendo ele o mais inseguro e atrapalhado, e ela, muito segura de si.
Deste casal, há muito o que se aprender. Ma Sang Goo é, muitas vezes, uma peça fundamental no amadurecimento de seus colegas e faz com que você acabe pensando com eles também.
“Por que você está com ela? Entendi. Você percebeu que na sua fala você não falou o nome dela em nenhum momento? Você só fica dizendo ‘Eu’, ‘Eu’, ‘Eu’, mas ela não entrou como principal de nada do que você disse”
Menções honrosas
O trabalho da Bomi, do APink, como a personagem homônima Yoon Bo Mi, brilhou, mesmo sendo, a princípio, tão pequeno. (Ao contrário da atuação péssima de Naeun, também do APink, em outros doramas)

Os pais de Se Hee, interpretados por Moon Hee Kyung e Kim Eung Soo, e os de Ji Ho, vividos por Kim Sun Young e Kim Byung Ok, ganham vida e fogem um pouco dos “parentes genéricos e passivos”, tendo motivações reais por trás de suas ações.
Além desses, me interessei pela Go Jung Min (Lee Chung Ah). Sua aparição é muito aguardada, e tinha tudo para ser um momento clichê e azedo de doramas do gênero, mas o que mais me chamou a atenção é que quebrou o clichê de “rival” e vilã. Pelo contrário, é fácil gostar dela e é isso que torna o dilema mais real.
Trama e por que amar
Porque Esta É Minha Primeira Vida se desenvolve de forma suave, concisa, orgânica, e muito, muito, muito real.
Os personagens são esféricos, vivos e se completam ao longo da história. São falhos, aprendem e influenciam uns aos outros. Poderiam ser seus vizinhos ou muito provavelmente você se identificará com um deles.
Os três casais representam visões diferentes sobre o casamento: o casamento sem amor, o casamento como fetiche, o casamento aberto.
Pode-se dizer que Because This is My First Life fala sobre momentos distintos da vida em relacionamentos, fases que todos podem passar não de acordo com a idade, mas níveis maturidade: juntar os trapos por questões meramente objetivas, a idealização romântica do casamento como resolução dos problemas e “final feliz”, a modernidade e a cumplicidade sem a necessidade de fechar um contrato antigo.

Em todas essas situações, o drama traz a mensagem que o mais importante é que ambos os lados estejam de acordo. Seja um casamento de fantasia e sonhos ou um relacionamento moderno, eles só dão certo quando as duas pessoas caminham na mesma direção e que estão dispostas a aprender um com o outro.
Curiosidade: Jung So Min e Lee Min Ki fizeram uma participação especial no dorama What’s Wrong Secretary Kim (2018), interpretando os pais da protagonista, Kim Mi So.
A forma utilizada para dar força à narrativa é por meio de flashbacks que alternam o ponto de vista, explicando por que um determinado personagem agiu daquela forma ou chegou naquele local e completando a informação.
Assim, o espectador consegue entender o que há por trás dos conflitos e mal entendidos. Em geral, eles são resolvidos sem se arrastar. Alguns precisam de mais tempo, como aconteceria na vida real. Os personagens são adultos, e mesmo os que não são muito maduros recebem ajuda para ter conversas claras, que podem até dar uma luz em algum problema real seu. O mais legal é que mesmo assim a história não acaba. É uma verdadeira lição para tantos doramas nos quais o drama é centrado em um único mal entendido, que, se resolvido, arruinaria todo o enredo.

O drama também fala sobre a importância da individualidade em um relacionamento, em manter aquilo que é a essência do outro intacta, bem como coisas pessoais que não precisam ser compartilhados à esmo, pois segredos são saudáveis até certo ponto, mas nocivos, se estrangulados, porque teremos que enfrentá-los em algum momento.
Além das questões pessoais, o roteiro discute, de forma certeira, questões que existem em qualquer lugar do mundo, como assédio, machismo, valores patriarcais, pressão da sociedade para o “sucesso” e um determinado tipo de comportamento.
São muitas as questões que você pode aprender neste dorama!
Pontos negativos
Apesar de rasgar elogios aqui, preciso admitir que existem três pontos que não me agradaram em todos os 16 episódios.

A chegada do personagem Bok Nam (Kim Min Kyu) e a explicação de seus atos não é muito crível. É um daqueles momentos no dorama que você precisa perdoar em nome do humor, mas me incomodou um pouco. Felizmente, é um momento rápido e eles não insistem muito nisso, então não chega a estragar. O ator também segura bastante a onda, com seu charme e carisma. É fácil gostar do personagem por causa dele, mas também seria fácil que ele se tornasse um chato. No balanço geral, no entanto, a presença do personagem fica decorativa. Bomi com menos tempo de cena consegue fazer mais pelo desenvolvimento da trama.
Também achei bastante fantasiosa a aparição da editora Go Jung Min e a oferta de emprego de Ji Ho. Entendo que isso foi feito para condensar a história e, por esse motivo mesmo, é perdoada, mas achei confuso.
Por último, achei desnecessário o fim do episódio 15, a decisão da protagonista e algumas ações decorrentes disso. Porém, o próprio drama trata de criticar a escolha e dá para entender que eles precisam de um recomeço, em um ambiente construído por eles.
Conclusão
Because This is My First Life é uma experiência completa, daquelas de aquecer o coração e que te fazem refletir, com o bônus de ter alguns dos melhores beijos dos kdramas.
Recomendo especialmente para adultos, ou quem está se sentindo travado na vida, amorosa ou não, está na fase de morar sozinho ou a procura de um emprego, dorameiros que procuram algo novo e realista, e quem está começando no mundo dos doramas também, porque é fácil de se identificar.
É um dorama precioso e único, difícil de ser copiado. Uma joia de honestidade e atual, para qualquer público que busca inspiração para enfrentar o dia a dia.
E para quem já viu e gostou desse drama, eu recomendo fortemente Twenty Again (2015), que tem o mesmo sentimento de realidade, aprendizado e amadurecimento com quebras de paradigmas.
Ficha Técnica

Nome: Because This Is My First Life / This Life Is Our First / Porque esta é minha primeira vida
Hangul: 이번 생은 처음이라
Romanização: Yibun Saengeun Cheoeumira
Diretor: Park Joon-Hwa
Escritor: Yoon Nan-Joong
Emissora: tvN
Episódios: 16
Data de lançamento: 9 de outubro e 28 de novembro 28, 2017
Horário de exibição: segundas e terças, às 21:30
[COMENTÁRIO COM SPOILER]
Eu amo TANTO esse dorama que eu nem sei. Infelizmente ele não parece ser muito conhecido entre as dorameiras, fiquei feliz de achar a resenha dele aqui 🙂
E eu sei que a decisão de Ji-ho nos episódios finais é polêmica, mas, eu, particularmente, estou do lado dela. Eu entendo que ela precisava de um tempo para organizar as ideias, pq tinha mta coisa acontecendo: ela e Se-hee estavam em um relacionamento? Eles iam ser casados ‘de verdade’? Se-hee gostava dela de verdade ou estava com ela por conveniência? Como lidar com as pressões dos sogros por netos? Como seria possível trabalhar com a ex do seu atual, com um passado tão intenso e traumático? Eu acho que o problema foi o jeito que a Ji-ho comunicou sua partida, o que é muito contraditório, já que eles, desde o início, sempre foram muito francos um com o outro. Não entendi pq, do nada, houve uma falta abissal de comunicação entre eles.
Mas para mim, o ponto negativo MESMO foi o desenrolar de Ho-rang e seu namorado. Achei a personagem muito infantilizada e chata, e achei o fato deles reatarem muito nada a ver, pra mim estava na cara q eles estavam em polos diferentes e a reunião deles foi mt forçada e só aconteceu pq eles não se imaginavam com outras pessoas. Fiquei tão irritada com esse final desse casal que fiz um post basicamente só pra reclamar deles rs
https://falandosobredoramas.wordpress.com/2022/01/26/nem-todo-casal-deveria-ficar-junto-quando-o-roteiro-cede-as-expectativas-da-audiencia/
Enfim, comentário gigante só pq nunca perco a oportunidade de enaltecer esse dorama ❤
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Por que esta é minha primeira vida me fez ruminar por dias várias passagens. Eu fiquei encantada com o texto, a trilha sonora, a atriz que faz a Ji-ho é linda e excelente. E concordo com você: os melhores beijos de dorama, viu. Aquele moço travado, com dificuldade de comunicação verbal, arrasa nos paranauê. E que trilha sonora lindíssima. Achei graça na confusão que ele faz com o bilhete dela, em nenhum momento ela diz que vai para Mongólia, ela fala sobre os costumes fúnebres mongóis hahahaha. O último episódio é maravilhoso.
Nota 10.
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