Resenhas de Kdrama

[Resenha] Desgraça a seu Dispor: ambivalência entre desgraça e amor

Doom At Your Service é um popular dorama de 2021 no qual uma jovem que irá morrer em 100 dias deseja pelo fim do mundo e acaba firmando um contrato com A Desgraça em pessoa. A entidade garante um desejo à jovem e remove sua dor durante esse período, mas se ao final dos cem dias ela não desejar o fim do mundo, a pessoa que ela mais amar será morta. Para enganar o contrato, ela decide amar a própria desgraça, salvar a si mesma, o mundo e quem ama.

Escrevi minhas primeiras impressões aqui, que geraram alguns protestos, o que me fez pensar em terminar de assistir a série e confirmar seu valor. Vamos começar pelos pontos positivos?

@surii

Elenco: os atores principais — Park Bo Young (Mulher Forte Do Bong Soo, Abismo Mágico e Oh My Ghostess) e o Seo In Guk (O Sorriso Deixou Seus Olhos/The Smile has Left your Eyes e Reply 1997). — têm grande peso e se equilibram na química entre “mocinha pequena fofa” e “bad boy misterioso alto”. As cenas deles são ótimas e acredito que o casal funcione junto e tenha os elementos antagônicos e complementares para crescimento que costumam construir um tipo de casal apaixonado que me agrada. Ele é a desgraça, a destruição. Ela é o resultado da desgraça, a vítima do que ele causou e acaba se tornando justamente quem ele quer proteger e motivo para torná-lo mais humano (literalmente). Ele é reservado e egoísta, ela vive em função dos outros. Ambos se conectam na falta de fé e no desejo pelo fim. A infelicidade de ambos acaba gerando amor, mas o amor deles pode causar, literalmente, a desgraça de todos. É bem bonito isso e esse pedaço da história me encantou bastante.

As atuações de ambos são convincentes, o sofrimento parece real. Não achei a protagonista irritante, pois ela está lidando com muitos problemas ao mesmo tempo! Estranho seria se ela estivesse feliz com tudo isso. Já a Desgraça é ótima enquanto é má, mas ainda melhor enquanto chora e é vulnerável. É interessante ver como suas defesas vão caindo em contato com o amor.

Temos também uma história completamente paralela de outro casal com um triângulo amoroso. São muitas cenas focadas em uma romancezinho que começa bom, preenchendo vazios, depois vira completamente outro dorama e sem força para tantas cenas. Adorei o trabalho do Lee Soo Hyuk e da Shin Do Hyun, mas senti que destoou demais da temática mais pesada proposta, contribuindo para fazendo o humor flutuar de uma cena dramática, intensa e poética para um foco de personagens com muito pouco para oferecer por tanto tempo.

Uma personagem que estava me incomodando, a menina-deus da Jung Ji So (Empress Ki, Hyde Jekyll Kill Me), tinha participações meramente figurativas no início, mas conforme vai avançando, percebe-se que seu papel é fundamental para o desenvolvimento da trama. Senti que suas cenas foram escritas para segurar a história, enrolando o que vai acontecer de importante a partir dela. Não acho que seja proposital, mas é engraçado como o papel de Deus também fica simbólico por essas atitudes: ela parece que não está fazendo nada, que está enrolando para fazer as coisas, mas depois tudo faz algum sentido. A ideia aqui é ter um deus que fica doente pela humanidade, o que é explicado logo de início. O conceito é legal, mas demora para florescer.

A beleza da trama versus a maneira de contar: por um lado, algumas cenas dão conta de mostrar a vontade de viver com a desesperança e como a luz pode iluminar até desgraça e produzir dela alguma alegria. Essas passagens são bonitas e realmente dignas de um dorama épico e inesquecível, que me fazem entender os apaixonados pela série. Eu adoraria que este texto fosse apenas sobre o que a história representa, não também sobre o desenrolar dos episódios. Por outro lado…. Os 16 episódios — escritos por Im Me Ah Ri, autora de Beleza Interior / Beauty Inside (2018) — alternam entre quente e frio o tempo todo, construindo um clímax e destruindo na sequência.

É até um pouco irônico, quase metalinguístico, como uma série pode construir e destruir o clima reflexivo tantas vezes. Desgraça ao seu Dispor tinha vários elementos dramáticos na sinopse em seu favor: o tempo correndo, uma doença fatal e um romance fadado à desgraça com uma escolha impossível. Um figurino impecável, atores de peso, trilha sonora marcante e poderosa, uma premissa de história emocionante.

O problema é que o desenrolar de tudo isso, assim como sua sinopse, é um pouco confuso e lento, o que pode fazer você querer desistir da série antes que ela chegue em suas melhores cenas – como quase foi o meu caso.

O motivo pelo qual os personagens fazem o que fazem algumas vezes me pareceu incerto, o que poderia ser apenas “parte da trama secreta”, “planos de Deus”, mas a construção demora para chegar lá (a cena toda que reconstrói o encontro deles foi bem legal). Fica na corda bamba entre um clima intenso e dramático e um clima moroso. Eu queria ter visto mais cenas focando no drama e no romance bonito que eles construiram, com mais cenas no jardim, na chuva, com mais conversas com Deus, com mais cenas entre os principais e que me desse mais tempo para preservar a sensação reflexiva que em tantos momentos ela até proporciona.

@deokmis

É ruim? Não é. Gosto de doramas sobrenaturais dramáticos e acredito que este seria o meu favorito se eu tivesse começado a ver doramas agora, mas simplesmente não me prendeu tanto. Ele tem tudo que um bom dorama precisa ter na fórmula de fantasia.

Como mencionei no meu primeiro texto, um dos fatores que me fez desanimar um pouco foi a protagonista decidir por conta própria que queria amar A Desgraça para dar uma enganada no contrato. Isso tirou metade do charme para mim logo nos primeiros cinco episódios. A partir do episódio 6, senti uma boa melhora na história, principalmente quando novos elementos aparecem, mostrando a solidão do personagem e alguns detalhes sobre como sua identidade se apresenta para outras pessoas. Consegui senti-los como personagens mais completos, mas o caminho até lá pareceu cortado por um atalho que não vi chegar.

@jaehwany

Mensagens reflexivas

Tirando o ritmo, que achei bastante arrastado, gostei de várias ideias e mensagens que o dorama proporciona e isso sem dúvida vai te fazer produzir seu próprio conteúdo mental para se autoentreter. Por exemplo, “a desgraça e a sorte podem ter o mesmo rosto”. A Desgraça acredita ser uma figura completamente má que só pode destruir, porém, de outro ponto de vista, mesmo os infortúnios que ela causou geraram consequências positivas, que podem ser aproveitadas, se olhadas com alguma doçura. Da mesma forma, uma escolha “egoísta” pode afetar a vida de outras pessoas que nada tinham a ver com isso.

Há também um prato cheio para o pessoal mais religioso, com os jardins do Paraíso, a rebelião dos filhos com o Grande Pai para depois encontrarem o caminho para o Eterno, o florescer de uma vida após tanta desgraça, a reconstrução pelo amor… É uma gracinha.

A conclusão da jornada é muito bonita, sobre como é possível construir após a destruição se houver amor, como pode haver vida mesmo onde só há desgraça se houver esperança e que o maior poder e qualidade do ser humano é exatamente a possibilidade de amar e sentir.

E então…?

Enquanto dorama, achei um pouco lento, mas na concepção é belo e interessante. Ironicamente, o dorama pode ser uma desgraça e uma maravilha na mesma moeda. É o que sinto em relação a essa série. De um lado, a estética, ideias ótimas pedindo para ser desenvolvidas, as músicas e os atores fazendo jus à fama. Do outro, alternâncias de cenas que não conversam com a temática da série, ritmo lento, motivações confusas e lentidão no desenvolvimento. Tive dificuldade em comprar logo de cara os personagens, em vê-los agindo de forma orgânica.

Vale a pena? Sinceramente, se você nunca viu um dorama de fantasia, principalmente, acho que vale muito. Ele é bem “mágico” sem ser completamente bobo e pode até te emocionar. É superior até a Tale of the Nine Tailed em química entre protagonistas e também na profundidade dos temas. Se você não se importar com séries mais lentas, não vai ter nenhum problema com isso.

Quem deve assistir ou evitar?

Se você não conhece ainda muitos doramas, pode ser uma ótima pedida porque ele tem um ritmo devagar e amistoso que vai trazendo todos os elementos românticos das novelas coreanas, fazendo até menções a séries como Extraordinary You e She will Never Know. É uma boa porta de entrada para conhecer o gênero de romance com fantasia. Tenho absoluta certeza que você vai gostar.

Quem gostou de Tale of the Nine Tailed provavelmente vai amar esse aqui também, mas é mais focado em romance do que em ação. 

Também com a Park Bo Young, temos Mulher Forte, Do Bong Soon, um clássico dos romances com poderes. Outro dorama que tem problemas semelhantes e curiosamente a mesma protagonista é Abyss, mas esse é bem menos carismático. 

Por último, acho que O Rei Eterno Monarca tem uma sensação parecia no quesito mundo de fantasia, mas faz o oposto ao construir lentamente um cenário rico, mas não entregar muito bem um final.

Agora, se você gosta de algo muito dinâmico, dramático ou muito intenso, essa série definitivamente não é para você. Há cenas dramáticas, excelentes reflexões, mas o ritmo não ajuda muito e intercala bastante com uma história paralela.

Nota:

Avaliação: 3.5 de 5.

3 comentários

  1. Juliana, adorei seus comentários sobre este dorama. É exatamente o que achei. Amei a série, mas teve momentos que realmente deixaram a desejar, assim como o finalzinho meio xoxo.

    Curtido por 1 pessoa

  2. ai, esse foi o drama do meu ano, o tanto que pirei por ele não tá nos livros. mas concordo com todos os seus pontos sobre lentidão + confusão em certas partes do roteiro. acho que pra mim funcionou porque eu comprei muito myul mang e a dong kyung como personagens e como casal, então analisar as motivações deles pra mim foi uma belezura. agora a história paralela… aquilo foi uma tortura que só. acho que com o tempo a roteirista vai aprendendo a balancear melhor essas narrativas, ainda é o segundo drama dela, e ela tem umas ideias muito boas, mas que ainda não sabe explorar totalmente.

    Curtido por 1 pessoa

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