Resenhas de Kdrama

Resenha de Mother (2018): Professora sequestra criança em dorama com atriz de É Tudo Meu

“Mãe”, “Mother” ou “Call Me Mother” é uma adaptação sul-coreana de 2018 pela tvN do dorama japonês homônimo que gira em torno de uma professora que decide sequestrar uma aluna que sofre maus tratos dos pais e, a partir disso, vira uma procurada da justiça. A sinopse chocante já é uma amostra dos questionamentos morais que a série faz o tempo todo. Com 16 episódios, trata de temas como família, adoção, maus tratos, moralidade, machismo e feminicídio.

Antes de mais nada, é importante ressaltar que estou falando da adaptação coreana de 2018, já que há muitas histórias com o nome “Mother”, inclusive um filme japonês recente na Netflix. O roteiro é de Jung Seo Kyung, roteirista do excelente filme A Criada (The Handmaiden). A direção é de Kim Cheol Kyu (Confession) e Yoon Hyun Gi (The Flower of Evil, Confessiro, Chicago Typewriter).

Elenco

As mulheres comandam esse show e todas as suas histórias são bem desenvolvidas, ainda que demorem um pocuo a abordar todas. Uma das partes mais interessantes da série é desvendar quem é a mulher por trás da história da outra mulher, montando um ciclo de abandono e relações importantes entre mãe e filha, mas mais do que isso, humaniza essas mulheres e mostra o que as tornou desse jeito.

Lee Bo Young (protagonista de É Tudo Meu, I Hear Your Voice e When My Love Blooms) interpreta Kang Soo Jin, uma pesquisadora de pássaros, que acaba dando aulas em um jardim de infância. Ela detesta crianças e o clima escolar, mas seu olhar analítico acaba detectando uma aluna que destoa dos demais, por sua aparência mal cuidada. A partir de então, Soo Jin investiga a vida de Hye Na (ótima atuação da atriz mirim Heo Yool) e acaba enfrentando um grande dilema e uma ação desesperada, que remete ao próprio passado dela.

A mãe de Hye Na é interpretada por Ko Sung Hee, que está praticamente irreconhecível para quem viu Enquanto Você Dormia, Suits ou Holo – inclusive eu demorei para ver essa obra, de tanto ranço que essa atriz conseguiu criar em cima da personagem. Ponto muito positivo para a atuação dela. É uma personagem odiosa, que dá vontade de entrar na tela e sabe-se lá fazer o quê. Porém, por mais que seja uma “vilã”, aos poucos a série tem a sensibilidade de mostrar – sem condenar ou glorificar – os motivos para ter se tornado dessa maneira e o papel do machismo no que ela se tornou. O sistema que ela viveu a pressionou para tomar decisões e, no fim das contas, ela representa o que muitas mães acabam se tornando ao serem esprimidas até a última gota.

Como apoio, temos Lee Hye Young (Lawless Lawyer e a mãe do Joon Pyo do Boys Over Flowers), que interpreta a poderosa atriz Yeong Shin. Sua personagem é uma muralha de gelo construída pelas expectativas da mídia, mas seu coração é extremamente generoso, sem ganhar nenhum crédito por isso.

Uma mulher se torna uma mãe quando dá seu melhor e dedica-se ao máximo para uma criatura menor

Go Bo Gyeol (a espiã de Rainha por Sete Dias, Crônicas de Arthdal e Hi Bye, Mama) é irmã da protagonista que vive uma relação conturbada com a família. A jornalista que acaba num impasse: escolher proteger as regras de sua profissão ou sua família?

E finalmente ela, a brilhante Heo Yeol (que fez Sweet Home dois anos depois), no papel de Hyena. É a mais nova mulher, ainda menina, que sofre na vida de uma teia de abusos psicológicos, causados por uma série de mulheres que foram vítimas de um ciclo aparentemente sem fim. Em muitos momentos você vai chorar com ela. É de cortar o coração, principalmente porque aqui fica nítido o quanto ela é refém do sistema e quem acaba realmente afetado pelas mazelas sociais que afetam, principalmente, a mulher.

A adaptação coreana

Uma adaptação que foi feita na versão coreana é a adição de um interesse romântico para a protagonista interpretado pelo Lee Jae Yoon (Amor Revolucionário, e omédico de Fada do Levantamento de Peso Kim Bok Joo) Não era necessário e tira um pouco da proposta da série de ser completamente sobre mulheres. Porém, fazendo aqui uma mediação, acredito que a série não o transforma em um salvador automático, e a vida de Soojin não melhora após conhecê-lo. Pela saúde da série, ela continua independente, mas a presença dele se torna um alívio para audiência em um certo ponto crítico.

Breve análise

O que é muito interessante sobre Mother é perceber que todas as personagens são afetadas por sua criação. É uma série bem feminista a meu ver, que a princípio, parece que vai culpabilizar a mulher, mas na verdade mostra os caminhos que levaram ao abandono, maus tratos, frieza e suposta indiferença. É uma série sobre um tipo de “feminicídio estatal”, como a sociedade mata mulheres indiretamente sem perceber.

Também é fantástico ao falar sobre o ambiente adequado para a criação de uma criança e como a criança de hoje se torna um adulto problemático amanhã. O criar dentro de casa transforma a pessoa para suas relações na vida e, consequentemente, para um problema sistêmico e cíclico. A estrutura que as organização oferecem para esse lar suficientemente bom também é determinante: se a mulher não possuiu um bom lar, como ela pode ter estrutura para dar para outro? E mais: a cultura do “em briga de marido e mulher não se mete a colher” é especialmente relevante quando se trata de crianças na cultura asiática, na questão de fazer vista grossa aos maus tratos dentro de casa, por se tratarem de “assunto de família”, pelo que pesquisei. A omissão é revoltante, especialmente quando a única pessoa que parece querer tomar uma atitude vira uma criminosa.

Se você não é muito ligado em política, fique tranquilo, porque essa é só uma visão minha. Dá para curtir a série só pensando pelo lado “a mãe que maltrata a filha, a professora que a adota e vira criminosa por isso”.

Como série de entretenimento, aviso que o ritmo nem sempre é muito constante. Por vezes, é até um pouco arrastado, para esticar os episódios necessários. Mas ao final da obra, é uma sensação de recompensa, de aprendizado, de tristeza daquelas que doem o peito e que faz refeltir e olhar para fora, para seus vizinhos e até para dentro de casa, porque essa série poderia se passar facilmente no Brasil.

Também aviso que esta série é para os fortes. As cenas são extremamente chocantes nos maus tratos infantis. É de dilacerar o coração com tamanha realidade crua. Então fuja se esse clima já te faz torcer o nariz.

Pesado, realista e extremamente melancólico, Mother não é um drama para qualquer pessoa e é muito diferente de outras séries coreanas, talvez por beber da fonte do melodrama japonês – que infelizmente eu não tive o prazer de ver para comparar.

Onde ver? Tem na Viki!

Nota:

Avaliação: 4.5 de 5.

Perde nota pelo probleminha de ritmo.

Recomendações

Se quiser algo parecido em termos de força de elenco feminino, Sky Castle dá um show também de mulheres carregando a série, além de trazer uma sátira sobre comportamentos da sociedade.

Em relação a sensação de melodrama honesto, eu recomendaria My Mister, que tem um clima muito pesado, personagens densos e desesperançosos, muito reais. Tem na Netflix!

Sobre as relações entre mãe e filha, de uma maneira mais suave, eu recomendaria Para Sempre Camélia.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: