Resenhas de Kdrama

ALQUIMIA DAS ALMAS: dorama épico-fantasia em uma Coreia mágica

Alquimia das Almas é uma história de fantasia, na qual elementos tradicionais da cultura coreana se fundem ao mundo criado a partir das mentes das aclamadas irmãs Hong. Nele, acompanhamos a saga de Jang Uk em busca de seu papel no mundo, bem como seu amor impossível com Mudeok. 

Texto por: Leticia Steenhagen (Hae Shin) em colaboração especial ao site.

Alquimia das Almas é uma série sul-coreana, transmitida pela tvN entre junho de 2022 e janeiro de 2023. Foi escrito pelas Irmãs Hong, roteiristas famosas na emissora pelas histórias de fantasia como Hotel de Luna e Uma Odisseia Coreana. Ao todo, a série possui 30 episódios divididos em duas partes. Cada um tem, aproximadamente, 70 minutos de duração. Pertence, até o presente momento, ao catálogo da Netflix Brasil, onde todos os episódios encontram-se dublados tanto em português quanto em espanhol.  

SINOPSE

Após um longo período de paz desde a última grande guerra, o país fictício Daeho se vê novamente em perigo diante da prática oculta da alquimia das almas, um feitiço profano que permite que um usuário troque de corpo, levando sua alma para um novo hospedeiro, onde se torna uma alma invasora. 

Em meio à essa crise, a perigosa Naksu (Go Youn Jung, de O Jogo da Morte, Moving, Sweet Home), uma assassina de magos, se vê obrigada a realizar a alquimia das almas, trocando de corpo com Mudeok (Jung So Min, de Porque esta é minha primeira vida), uma jovem cega e fraca que não consegue comportar a energia de Naksu, deixando-a sem poderes. Assim, se disfarçando para sobreviver e retomar sua antiga forma, Naksu, agora Mudeok, acaba tendo o destino cruzado com Jang Uk (Lee Jae Wook – Melodia da Esperança, Extraordinary You, Search WWW), um jovem nobre rejeitado como aprendiz por todos os mestres de Daeho que não consegue realizar magia. Reconhecendo a alma invasora de Naksu em Mudeok, ele encontra nela a única mestra que pode mudar seu destino.   

CONSTRUÇÃO DO MUNDO DE DAEHO

Sendo um dorama de fantasia, Alquimia das Almas é aquele tipo de proposta que você precisa apenas aceitar o que está acontecendo, sem se questionar muito se é possível ou não. Pelo menos até você se acostumar com o enredo.

Talvez justamente por essa necessidade de ter uma lógica própria, as Irmãs Hong tenham criado Daeho e seus mistérios. Daeho é uma dinastia fantástica, não sendo possível encaixar nem como Joseon nem como Goryeo. Possui, inclusive, elementos da moda contemporânea como brincos, acessórios e cabelos tingidos tal qual vemos. 

Para além da estética, também é um país que possui cargos e nomes próprios para cada um deles, que não serão vistos fora desse universo. Isso sem falar das técnicas de feitiços e lutas. Por isso, acho que se você for um dorameiro iniciante, deveria assisti-lo dublado para que haja uma melhor compreensão da história. Afinal, para além da barreira linguística, onde estamos tentando entender porque o nome que aparece na legenda não parece com o que foi dito (por conta do uso de sufixos e outras formas de tratamento), também haverá uma série de nomes que são específicos para este dorama.

Assim sendo, digo que os quatro primeiros episódios servem para que a ideia desse mundo seja completamente absorvida. Não vai bastar apenas gostar de fantasia ou apenas gostar de épico/histórico. Tem que gostar dos dois. Ou simplesmente se deixar encantar pelas atuações do elenco e mesmo dos efeitos especiais na execução das magias, pois são impecáveis. 

Particularmente falando, sempre fico com um pé atrás com a magia em séries, no geral, pois dependendo do orçamento, fica muito mal feito, visualmente esquisito e me dá cringe (vergonha alheia?) e isso é algo que NÃO acontece aqui. Lembro que me sentia totalmente focada olhando para a tela, sem conseguir piscar, maravilhada com as coreografias de luta e a magia em si. 

Alquimia das Almas é uma história esteticamente muito bonita, tem uma fotografia e detalhes visuais muito bem cuidados. Isso faz parte do encantamento pelo qual sentia pelo dorama. Acompanhado ao visual, o sonoro também é envolvente. Suas músicas incidentais conseguem dar a tensão necessária para o momento, começando pela abertura que já te dá um hype do que vem a seguir.  

No entanto, não é apenas de beleza que um dorama sobrevive. E Alquimia das Almas soube equilibrar todos os fatores para alcançar o sucesso que obteve durante sua transmissão. 

ENREDO

As linhas das tramas dos personagens são bem definidas. Mesmo os personagens secundários têm seus momentos de protagonismo e mostram que não existem à toa, apenas para completar o elenco. 

Daeho foi um país abençoado pelos céus, muitos anos atrás. Por conta de uma longa seca derivada de uma prolongada estiagem, os nobres se uniram para realizar uma cerimônia onde a sacerdotisa da família Jin (uma das quatro famílias mais importantes de Daeho, ao lado dos Park, Seo e Jang) dançou para os céus. Durante sua dança, a chuva caiu e trouxe ao mundo a Pedra de Gelo, capaz de conceder poderes divinos ao seu portador, para o bem ou para o mal. Além disso, a água de Daeho é a fonte da magia, essencial para a sociedade como um todo.

Contudo, a ambição dos homens culminou numa guerra sangrenta que deixou o país à beira do caos, não fosse pelos feitos do herói Seo Gyeong ao lado da sacerdotisa Jin. Assim, eles conseguiram vencer a guerra, dando punição aos traidores e isolando a Pedra de Gelo num cofre mágico, onde as relíquias mais perigosas são impedidas de voltar ao mundo, pois estão protegidos pela família Jin. 

Diante do que ocorreu na guerra, foi necessário instituir alguns limites, bem como educar ao máximo os futuros magos para que não cometessem os mesmos erros do passado. 

A paz reinou por anos, até que a Alquimia das Almas foi detectada. É nesse contexto que Naksu tem seu destino cruzado ao de Jang Uk.

Jang Uk é filho do principal mago de Daeho, Jang Gang (Joo Sang Wook). Seu cargo está atrelado ao Rei de Daeho, porém, tem anos que ele sumiu e nunca mais voltou. Ainda assim, o cargo nunca foi ocupado, nem ao menos pelo seu vice e discípulo Jin Mu (Jo Jae Yoon). Teoricamente, o cargo pertence à família Jang, porém, o único filho da família tem um problema: sua energia foi bloqueada pelo seu próprio pai quando ainda era um recém nascido. E, assim, ele não é capaz de fazer uso da magia a qual teria direito. 

Os porquês são desenvolvidos ao longo da história, mas é justamente essa saga do crescimento pessoal de Jang Uk, um “de zero a herói” pelo qual ele passa que o torna um personagem cativante. Apesar de todos se recusarem a abrir seu canal de energia, por medo de descumprir a ordem de Jang Gang, o personagem nunca desiste de se provar, de conhecer a si mesmo. Existe um grande distanciamento entre pai e filho e se tornar um mago é uma forma de provar seu valor e superar os traumas que o abandono parental causou nele. 

Em seu caminho, ele encontra Naksu. Ou melhor, Mudeok, uma jovem cega que estava servindo em uma casa de entretenimento. Por conta de sua rejeição e o bloqueio da energia, Jang Uk sempre estudou muito, tendo um talento nato para aprender rápido, quase como um prodígio. Ao reconhecer um movimento pelo qual Naksu era famosa, ele reconheceu a alma invasora. Mas ao invés de entregá-la, resolve fazer um pacto, de que a deixaria escondida se ela o ensinasse a ser um mago.

Formando uma dupla improvável, com posições que se revezam – para os outros, Mudeok é a serva de Jang Uk e ele seu jovem patrãozinho, mas entre eles, sabem que são mestra e aprendiz – é através deles que toda a história é desenrolada.

A história tem muita ação, mas também tem seus segredos e mistérios, momentos de tensão. O romance traz uma química de milhões e você, provavelmente, já viu vídeos no IG ou colagens de cenas de Jang Uk com Mudeok; e uma pitada de comédia apenas para não tornar o cenário frio e sombrio demais. Porém, o que ele mais tem são plot twist. Aquelas famosas revelações que nos deixam de queixo caído e onde as pontas soltas de amarram. Eu amo quando a história tem essas cambalhotas e as de Alquimia das Almas são bem encaixadas e num bom timing. 

Como sempre, eu evito dar spoilers demais, por isso não mencionei outros personagens que são importantes para a trama. Quando disse que os secundários também têm seus momentos de protagonismo não foi por acaso, mas para saber como, você precisará assistir para tirar suas próprias conclusões. 

E para aqueles que são amantes de K-Pop, dois idols fazem parte do elenco: a Arin do Oh My Girl e o Hwang Minhyun, ex N’UEST e solista. Arin interpreta Jin Cho-yeon, uma sacerdotisa romântica conhecida por representar a primavera; e Minhyun é Seo Yul, um dos melhores magos de Songrin que tem o outono como estação. Durante o dorama, uma das músicas de maiores sucessos do Oh My Girl foi adaptada com instrumentos tradicionais para uma cena, e Minhyun faz parte da OST tanto na primeira quanto na segunda parte. 

NETFLIX AND CHILL

Nem todo dorama carrega aquelas profundas imersões na psiquê dos personagens. Eu sinto que, num primeiro momento, Alquimia das Almas é um dorama para você se divertir e não fazer associações demais com o mundo real. Apenas curta o passeio e se deixe levar pela magia de Daeho.

Porém, numa segunda análise, existe a possibilidade de fazer algumas associações, de fato. 

Primeiro, não acho aleatório a água ser a essência da magia deste universo. Tal qual em nosso mundo, a água é a origem da vida, para eles, é de onde a magia provém.

Segundo, quando o homem se torna ambicioso demais para alcançar um poder extremo, o qual não tem controle, causa desequilíbrio, morte e guerras. Em Daeho, é a busca pela Pedra de Gelo que, usada para o mal, de modo egoísta, torna a magia desproporcional e a natureza cobra. Aqui, em nosso mundo, pode ser o dinheiro, a fama, o poder sobre outras pessoas. O que a ambição irrefreada do homem têm feito com o nosso planeta? Quantos desastres naturais temos identificado dos últimos anos para cá? E onde vamos parar? São perguntas cujas respostas podem ser bem amargas se formos analisar o que temos hoje, não é?  

Por fim, traz o símbolo da importância de se equilibrar as Instituições. Em Daeho, existem locais de magia distintos: a escola de magos (Songrim); os magos que são uma extensão do poder do rei (Cheonbugwan); e o clã das sacerdotisas que protegem o cofre dos itens mágicos (Jinyowon). O tempo todo, esses representantes estão testando os limites e vendo onde não podem atravessar, porque ninguém pode ter o poder absoluto de novo. Em nossa sociedade, sabe onde podemos ver isso? Na divisão dos três Poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário) a partir do momento em que eles são freios e contrapesos uns dos outros. É necessário limitar para que a sociedade consiga atingir um certo grau de equidade, pelo menos em teoria. Mas a verdade é que se não existisse isso, todos seríamos fadados ao caos, à escassez e ao desequilíbrio. 

CONCLUSÃO

Alquimia das Almas entrega tudo o que promete. É um dorama que sabe entreter, mas que também nos faz pensar não em nossa individualidade, mas no coletivo. Ao mesmo tempo, se não quiser trazer para o mundo real, não tem problema! Basta relaxar e observar Daeho como o mundo fictício que ele é.

Quando assisti, não sabia que teria uma segunda temporada e foi uma surpresa e nervoso que passei por alguns meses. Felizmente, ninguém precisa mais passar por isso, pois já estão disponíveis! No entanto, não citei a parte 2 (Alquimia das Almas: Luz e Sombras) porque teria muito spoiler da primeira e adoraria que você conhecesse essa história antes de falar da parte 2. Quem sabe em breve não faço uma resenha também?

De toda forma, não nego que esse foi o meu dorama de 2022. Eu só falava dele e já assisti duas vezes e meia. E foi um grande prazer poder compartilhar um pouquinho desse gosto com você!

Espero que goste da leitura, que assista e venha aqui comentar, mesmo se achar horrível!

Até nossa próxima resenha!

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Avaliação: 5 de 5.

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