Resenhas de Kdrama

Resenha de “Beleza Verdadeira”: comédia pueril com triângulo clichê tem um charme inexplicável

“Beleza Verdadeira” é uma comédia romântica escolar de 2021 que conquistou audiências gigantes com sua abordagem leve e cômica sobre temas como autoimagem e amor adolescente. Entrou dublada no catálogo da Netflix em dezembro de 2023.

Adaptada do webtoon de Yaongyi, a série narra a história de Lim Ju Gyeong, uma garota que se torna uma sensação na escola após dominar a arte da maquiagem através do YouTube. A série brinca com a ideia da beleza exterior versus a verdadeira beleza interior, abordando os dilemas de Ju Gyeong com seu rosto sem maquiagem e seu relacionamento com Lee Su Ho, o único garoto que a viu ao natural.

Antes de mais nada, quero dizer que eu não aguento mais a dublagem de doramas da Netflix com as mesmas vozes de “Run On”. É quase sempre a mesma protagonista, não importa se a atriz combina ou não, e o mesmo mocinho – e as vozes nesse caso nem combinam! Há uma repetição exaustiva dessas vozes, sempre nos mesmos papéis de protagonista. Nas séries americanas, geralmente se atribui uma voz única e característica a cada ator, reforçando a identidade e a expressividade dos personagens, mas nos doramas que gravam especificamente nesse lugar é sempre o mesmo elenco redistribuído. Gostei do trabalho desses atores em outros doramas, mas simplesmente não aguento mais ouvir só eles.

Dito isso… Vamos falar sobre a parte técnica do dorama. Sob a direção de Kim Sang Hyub (Extraordinary You – a cena do cinema que aparece uma menina de rosa é uma referência a essa ótima série) e roteirizada por Lee Shi Eun (Loverly Runner), “True Beauty” combina gêneros como comédia, romance e drama. A série se destaca por sua representação lúdica de temas como transformação pessoal, popularidade e os desafios da vida escolar.

Elenco

Moon Ga Young (Find Me in Your Memory e Seduzida) é, ironicamente, uma das figuras mais belas da Coreia do Sul, ganhando fama até internacionalmente após aparecer em eventos de moda. A personagem é fofinha, bobinha e graciosa. É fácil gostar e sentir pena dela, mas a atriz definitivamente não parece uma estudante de ensino médio – mesmo assim, ela faz seu melhor na atuação e no jeitinho bobo encantador. 

Cha Eun Woo (HaeRyung, A Historiadora; My ID is Gangnam Beauty; ex-membro do ASTRO) como Lee Su Ho. No início, ele é o mesmo personagem sério, rude e sem carisma do outro dorama sobre aparência que ele participou. Aqui, com um pouquinho mais de personalidade, mostra um lado mais doce conforme o tempo, mas continua mais “bronco”, pelo trauma após perder Seyoung e ser culpabilizado por sua morte.

Além deles, tem o Hwang In Yeop (O Som da Magia) como Han Seo Jun. Para mim é bem óbvio que ele é só um elemento do triângulo amoroso feito para confundir e ser usado como um breve momento de conforto e confusão da principal sempre que o mocinho resolver terminar ou brigar com a protagonista. Desde o início, suas participações são bem limitadas em relação ao outro personagem, ainda que ele pareça bem mais desenvolvido – e é por isso que gera tanto a sensação angustiante de síndrome do “second lead”. Sua história parece mais consistente. Ele culpa Lee Su Ho pela morte de Seyoung, e ambos têm uma rivalidade aguçada.

Outro rostinho conhecido que aparece é o da Park Yoona (Hotel del Luna; My ID is Gangnam Beauty e SKY Castle) como Kang Soo Jin, amiga da protagonista e uma das mais interessantes por aqui. Ela é a melhor secundária daqui, já que além de ter alguma história acontecendo no fundo (é filha de uma família de elite exigente, tem TOC), é uma das poucas que possui sentimentos bem diferentes do esperado.

Sinto que todos os outros personagens secundários são figurativos e fracos, que servem para preencher os espaços para durar 16 episódios. A família da protagonista é uma das mais intragáveis de doramas. A mãe dela só não é pior que a tia da Juli Eun, de Um Luxo de Sonhar.

A narrativa

“True Beauty” começa bonitinho. As cenas de bullying são impactantes e a transição da personagem nerd com espinhas em uma beleza por conta de maquiagem é até que surpreendentemente bem feita, pois parece possível. Comecei o dorama torcendo por ela.

O núcleo de apoio é composto por: as maldosas estereotipadas, uma amiga genérica com o namorado de longa data e a “amiga forte girlcrush” (essa é a mais interessante, como citei acima), só para não spoilar de cara. Com uma construção superficial, a maioria pouco contribui para a trama principal, servindo de preenchimento entre cenas – exceto pela Kang Soo Jin (Park Yoona), que é uma surpresa ótima no dorama.

Conforme a série progride, a qualidade do enredo vai, de forma inexplicada, crescendo em você. Depois do episódio 5, parece que os personagens são mais “de casa”. Eu acabei cativada por eles, torcendo por um bom final. O ritmo continua instável, há muitas cenas chatas com personagens que ninguém liga, o humor é questionável, mas me peguei com bastante vontade de assistir até o fim, apesar de tudo.

Os últimos episódios mostram claramente a falta de conteúdo para contar a história na duração de 16 episódios de 1 hora, trazendo muito filler e usando de muitos recursos batidos do gênero de comédia romântica que até estragam um pouco o romance que foi construído.

Às vezes, “Beleza Verdadeira” é só um pastelão para dar risada, às vezes, surgem de uma a três cenas por episódios que entretém (a irmã de um dos meninos maquiada por ela, o reencontro com as valentonas, uma cena de declaração amorosa…). A maioria dos clichês possíveis de uma comédia romântica estão presentes: quedas coreografadas, acidentes de carro impossíveis, personagens ricos malvados com bom coração, términos ridículos, ciúmes com cenas forjadas, cenas de humor forçado…

A comédia é predominante pueril e repetitiva (quantas vezes ela cai no colo do Cha Eun Woo?), mas por vezes tão exagerada (os personagens saem correndo de vergonha o tempo todo, gritando e pulando) e absurda que não poderia dizer que é clichê. Algumas situações são até bonitinhas, como a cena da cuequinha de tigre e a provocação da protagonista com isso. E de “bonitinho” em “bonitinho”, você acaba envolvido. Em determinado momento, acabei rendida à cena de humor mais “bizarra” que assisti em todos os doramas, que acabou inesperadamente engraçada: a batalha dos gyozas/pastéis.

Isso significa que é bom? Não. Mas pode funcionar se você gosta de uma comédia romântica muito leve sem compromisso e tem uma boa dose de paciência para aguentar algumas cenas de um núcleo de apoio nada interessante.

Já sobre o triângulo amoroso, a disputa tem um desenrolar enfadonho, especialmente nos últimos episódios, com final bem previsível (ainda que não seja particularmente minha preferência). Foi uma “guerra” na internet, mas, sinceramente, eu tinha certeza dessa decisão desde o começo. Se você quer saber com quem ela fica em Beleza Verdadeira, é:

O motivo é tão simples quanto ele é a primeira pessoa que dá atenção para a versão verdadeira dela. É fácil de entender por que ela se apaixona e não quer mais desgrudar.

Conclusão

A série não promete ser profunda, e assistir com essa expectativa é um engano, mas mesmo no que se propõe, carece de alguma liga que mantenha a história andando até o fim, abandonando rapidamente conflitos por novos, com resoluções instantâneas e frustrantes comparadas ao sofrimento que foram expostas (o “perdão” da protagonista é um exemplo claro disso)

A trama navega no conforto dos clichês de comédia romântica com triângulos amorosos, mas carece de substâncias para deixar o gênero mais divertido. Há formas de fazer uma comédia romântica leve ser clichê e deliciosa, mas não foi o caso aqui. Sinto que funciona melhor como uma webtoon para ler de forma descontraída do que como série.

A conclusão da série utiliza de mais tropos narrativos conhecidos e desnecessários. Na época que foi ao ar, muita gente “shippou errado”, mas se for reparar, além da história em si, no tempo de tela de cada um, quando cada um entra e até a escolha de atores, o resultado não é surpreendente.

Em resumo, “Beleza Verdadeira” é um dorama simplório e pouco inventivo, com rostos bonitos no elenco, mas que, por algum motivo, tem o poder de, em seus clichês, gerar uma paixão imensa na audiência, especialmente em quem começou a ver doramas recentemente. Uma comédia romântica trivial e comum, mas que é bem fofa em alguns momentos; para quem gosta do gênero escolar e triângulos amorosos.

Nota:

Avaliação: 3 de 5.

O que ver depois?

Recomendo Gangnam Beauty, que, apesar de ter suas falhas, executa a trama melhor e discute o tema por mais tempo – tem também o Cha Eun Woo.

Outro bom dorama sobre o tema é Switched, em japonês, que contém troca de corpos entre uma popular e uma menina excluída.

Uma comédia romântica bobinha e muito superior é Pretendente Surpresa, que é divertida e adorável, com os clichês bem feitinhos.

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