Resenha de Celebrity: aparência de dorama de qualidade, mas final é desastroso

Celebrity é uma série da Netflix de 12 episódios que tenta falar do mundo de influenciadores e fazer críticas sobre.

O dorama tem seu público quase metalinguístico: começa brilhando em figurinos e visuais, dando uma impressão de ser um excelente dorama, mas se revela raso, fácil de digerir, bom para passar o tempo, e ainda de quebra finge que tem alguma proposta social.

O roteiro da Kim Yi Young (The King’s Doctor, Haechi e outros doramas majoritariamente de época) é instigante em sua vingança. Dá para perceber a veia de teia política que ela traz de suas séries ambientadas em palácios. A estrutura de rainha das redes sociais é parecida com uma corte real e funciona bem no mundo atual.

Logo de cara me lembrou Followers (Seguidores), um dorama também na Netflix, que se passa no Japão, com uma menina que odeia o mundo de celebridades e acaba virando influencer do nada. Gostei muito mais da série japonesa, por ser mais conciso, além de ter um universo bem mais rico. Então fica a dica, também está dublado.

Elenco

Park Gyu Young é a protagonista, Seo Ari. Você provavelmente já a viu em algum dos doramas da Netflix que ela fez: Tudo Bem Não ser Normal, Sweet Home, Romance is a Bonus Book, O Juiz do Diabo) ou a segunda temporada de Squid Game/Round 6. Ela está sendo chamada pelos coreanos de “filha da Netflix”. Seu papel é bem feito, mas no final a personagem vira uma grande interrogação e nem ela consegue salvar a cafonice daqueles últimos episódios.

Lee Chung Ah, que é a “rainha-mor” das subcelebridades nesse dorama, foi a ex-namorada do protagonista de “Porque Esta é minha Primeira Vida“. A personagem é interessante, já que é um ponto de equilíbrio no meio das mocinhas que querem só destruir umas as outras. No entanto, pela falta de desenvolvimento absurda, ela fica em um limbo e praticamente sem final.

O “poderoso” da série é Kang Min Hyuk (De Herdeiros), mas seu papel é tão apagado que não convence, nem o romance com a protagonista, e praticamente não aparece na história – o que não é um defeito, já que ele não faz diferença.

Do grupinho das influencers, todas parecem a mesma pessoa, fúteis e sem personalidade. A Han Eu Ddeum esteve em Apesar de Tudo, Amor, e a Jun Hyo Seong esteve em My Shy Boss e é uma ex-idol do grupo de kpop Secret. Há também algumas participações de famosos da vida real: a Yuqi do (G)I-dle no episódio 8 e 9, como uma investidora chinesa.

Avaliação

Celebrity começa interessante, mas por incrível que possa parecer, mesmo tendo 12 episódios, é extenso demais. Depois de 6 episódios fingindo que é uma live eu já teria saído da transmissão dela. É tudo um roteirinho muito fraco para segurar você nos ganchos de episódios, mas se parar para pensar, não faz sentido. São quantas horas de exibição de exposed? E que internet boa naquele lugar, hein? Ok, isso é o de menos, tem até explicação, mas o que degringola a história de verdade é tentar colocar crime no meio.

A reação das protagonistas sobre uma certa morte é tão estúpida! Poderia simplesmente ter dado 20 minutos de conversa do personagem em questão para criar O MÍNIMO de vínculo com o espectador em vez de jogar assim aleatoriamente. Teria feito tão mais sentido se fosse uma das moças… Mas não. Então temos um drama que ocupa mais da metade da série sobre a morte de um personagem que ninguém se importa e aí de alguma forma vira um makjang de mata-mata, morte falsa, morte verdadeira… O que é isso, Coreia? É fácil assim sumir com as pessoas?

Tem dorama que isso faz sentido, porque os personagens são mafiosos, têm um histórico, uma construção de medo. Aqui parece que dá para encomendar morte dos outros pelo ifood. Mal trabalhado demais.

Outro problema gigante da série é querer trazer um clima “Gossip Girl” para a história, correndo, em dois episódios. O que foi isso? E esse desfecho? A série seria muito boa se o foco Gossip Girl fosse desde o começo e somente esse, então envolvesse aquela outra pessoa para contar a história. Fim. Seria lindo. Mas a preguiça da vez é usar tecnologia para justificar furos. Achei horrível.

O pior é que a primeira parte é bem instigante, quando começa a estabelecer seu nome na fama, mas quando começa a entrar um pouco na parte das drogas e da venda de roupas já vai ficando enfadonho. Mesmo assim, é excelente para maratonar, porque é construído para te prender.

A edição também é muito bonita. Tudo é muito vibrante e visualmente interessante. O trabalho de direção artística é bem feito pelo Kim Cheol Kyu, de Flor do Mal. O problema aqui é roteiro e uma construção frágil de personagens, mesmo.

Romance? Nem um pouquinho…

Além das reações dos personagens que às vezes são risíveis e não fazem muito sentido, o suposto romance da protagonista não convence nem um pouco. Não há tempo de construção para o casal, não dá para captar sentimento de nenhum dos lados, mesmo usando uma desculpa de uma narrativa torta. As decisões que desencadeiam “o grande mistério” são estúpidas e a resolução delas é cartunesca e fora da realidade. Os três últimos episódios são uma noveleira que tenta muito ser profunda e tecer críticas, mas usa as motivações erradas e os ganchos mais fracos para fazer isso, resultando em cócegas no tema.

Com tudo isso, o tom dramático do final acaba se tornando alienígena ao restante. Não parece urgente, não parece convincente… Recomendo Seguidores, também na Netflix, que é bem melhor e tem uma mensagem mais poderosa.

Em resumo, Celebrity é uma série para ver de noitinha com uma janta saborosa para descansar o cérebro. Um vai e vem novelesco de vingança que começa bem e traz uma sensação revanchista em quem assiste, mas depois desanda como um carro no precipício. É interessante e divertida a sua maneira, mas é completamente esquecível.

Quer ver vingança boa? Vai assistir A Lição.

Nota:

1 estrela pelo visual, 1 pelo início que é bem legal! Meia pelo material maratonável