Esta é uma resenha do dorama dublado na Netflix Mask Girl. A audaciosa minissérie coreana tem 7 episódios e uma história completamente inesperada e insana partindo da premissa de uma garota que usa uma máscara para fazer lives e se exibir na internet. A série discute padrões de beleza e os impactos colaterais da internet, máscaras sociais e feminismo.
Baseada no webtoon homônimo da artista Mae Mi, a série segue Kim Mo Mi, uma mulher de 27 anos fora dos padrões de beleza que leva uma vida dupla entre um trabalho burocrático e shows sensuais sob a máscara da popular “Mask Girl”. A adaptação de roteiro foi assinada pelo roteirista Kim Young Hoon.
A série vai à contramão de tudo que imaginaria de uma trama que critica a indústria da beleza. Pensei que veria algo nos moldes de Switched, Followers, ou mesmo Beleza Interior, sem a fantasia. No entanto, de repente estava diante de uma série feminista de serial killer. O segundo episódio é assustador e surpreendente, dando o tom real do que se trata esse kdrama.
No elenco consta: Lee Han Byeol, Go Hyun Jung (Dear My Friends, completamente irreconhecível) e Nana (do grupo de kpop After School, atriz de Kill It) como todos os rostos de Kim Mo Mi, e a magnífica Yeom Hye Ran (The Glory, Alquimia das Almas, The Uncanny Counter), como a senhorinha. Tem outra participação de idol, no papel do namorado tóxico, interpretado pelo ator Lee Jun Young (do grupo UKiss, que esteve em D.P e protagonizou Amor com Fetiche)
Série feminista
Todas as mulheres da série são submetidas a abusos e injustiças, levando-as a criar defesas psicológicas para sobreviver. Violência de gênero, obsessão, pressão por padrões estéticos, comportamento masculino tóxico e sororidade são alguns temas abordados.
A narrativa geral de Momi mostra uma mulher marginalizada que busca aceitação, sucesso e amor em um mundo (majoritariamente masculino) que frequentemente a rejeita. A necessidade em esconder sua aparência real e sua subsequente decisão de se submeter a procedimentos cirúrgicos são reflexos da pressão social que muitas mulheres enfrentam. Sua busca por aceitação e identidade chega à internet, onde ela pode se reinventar e sentir-se desejada pelo olhar masculino, ganhando valor como um produto no mercado.
A série explora as complexidades das relações de gênero, como visto na busca de Mo-mi por atenção masculina e na representação da cultura incel por meio do personagem Oh Nam.
A sociedade de aparências
Um dos temas centrais é o “Lookismo”, um termo que se refere à discriminação ou preconceito baseado na aparência física de uma pessoa. É o que tanto Momi quanto seu colega de trabalho, Joo Oh Nam (Ahn Jae Hong, Lutando pelo Meu Caminho), obcecado por ela, sofrem: ambos foram excluídos e impossibilitados de se tornarem objetos de desejo pela sociedade, tornando-se, assim, figuras fixadas em certos comportamentos. No entanto, existe um conflito de poder claramente influenciado por gênero que desencadeia no primeiro de muitos assassinatos da série e algumas cenas revanchistas de parceria feminina contra abusos.
Carente desde a infância, Momi tem uma necessidade intensa de atenção e validação, o que a leva a levar uma vida dupla e se expor a situações potencialmente perigosas, desejando estar no holofote a todo custo. Ela lida com uma quantidade significativa de trauma não resolvido relacionado à sua aparência e autoestima, o que a leva a usar uma máscara literal e figurativa para esconder seu verdadeiro eu. Tal ação sugere que ela está tão desesperada por atenção e reconhecimento que está disposta a aceitar qualquer forma de atenção, mesmo que seja negativa, só para se tornar objeto, algo que nunca lhe ocorreu, mesmo que isso signifique ser objeto de escárnio ou desdém.
A máscara representa o conceito de “Falso Self”, desenvolvido pelo psicanalista britânico Donald Winnicott. Ele refere-se a uma personalidade falsa e superficial que uma pessoa desenvolve como uma defesa contra o mundo externo, uma “máscara”. Tal fenômeno ocorre frequentemente como uma resposta a experiências traumáticas ou negligência durante a infância.
Na série “Mask Girl”, a personagem principal não remove a máscara, mesmo despida, na cena que achei mais simbolicamente potente. Já o “príncipe” sustenta sua máscara de “príncipe da mamãe” na internet, já que na “vida real” não se concretizou assim. Além desses iniciais, a maioria dos personagens “não é o que parece”, sendo capaz de atrocidades que chocam pelo papel social mostrado, como o da “senhora boazinha, religiosa e tradicional”.
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dOARO ritmo e a série como série…
Em formato de antologia, cada episódio traz um personagem distinto aos “holofotes”, oferecendo uma perspectiva única dentro da narrativa maior. Essa abordagem, embora inovadora nos primeiros momentos, com o tempo se mostra cansativa, mas tem o mérito de ser completamente imprevisível.
Apesar dos temas instigantes, o ritmo do dorama me distraiu das reflexões. Os episódios finais revelam os verdadeiros limites dos personagens, mas creio que o estrago feito até esse momento já fazem muitas pessoas pararem de assistir no começo.
Em resumo, “Mask Girl” é o tipo de material que existe para chocar e para atingir um público mais amplo, sedento para ver na tela uma vingança que gostaria de aplicar no mundo real. É um tipo de “máscara” do público que gosta e se identifica com ela. No entanto, apesar de perturbadora, deve cair no esquecimento em breve.
Não recomendo para todos os públicos, pois é uma série forte e graficamente perturbadora. E se você não gostar nem ao menos das reflexões sobre o tema, corra, porque Mask Girl tem muitas provocações.
Conclusão
Apesar dos símbolos, preciso ser sincera com meu público: achei uma série muito chatinha, especialmente pelo monte de assassinatos que vão sendo cometidos, beirando o ridículo. A mensagem é boa, mas não me senti vendo um filme potente, como no caso de Parasita ou Mother, que são perturbadores e bem construídos. Começa bem, mas, de repente, vira uma lambança, principalmente quando entra a mãe do rapaz, a amiga e a outra menina… Nossa que confusão!
Reforço, no entanto, que para aqueles dispostos a refletir sobre os temas propostos e que estão preparados para cenas gráficas e momentos perturbadores, pode valer a pena dar uma chance. Mas, para quem busca uma experiência mais equilibrada e coerente, “Mask Girl” pode não ser a escolha ideal.
Em conclusão, a série tenta abordar questões sérias e relevantes, mas se perde em sua própria complexidade e, por vezes, falta de foco. É uma pena, pois a premissa e os primeiros episódios eram promissores
