Resenha de Cães de Caça: entenda acidente da vida real que tirou personagem importante da série

Dois jovens boxeadores se juntam a um agiota arrependido para derrotar um concorrente que se aproveita das pessoas mais vulneráveis. Essa é a premissa da série coreana de 8 episódios que alcançou o top de mais assistidos da Netflix.

Dublado em português, “Bloodhounds” é um dorama de ação e crime que se passa durante a pandemia de COVID-19 em 2020, no qual a dificuldade das pessoas em manter-se financeiramente fez com que surgisse uma quadrilha de agiotas que exploram as vítimas. Quando a mãe de um boxeador acaba agredida pelos capangas de seus credores, ele se junta a um amigo para derrubar o chefão do crime. A história é baseada em um quadrinho escrito por Jung Chan, no qual os personagens lutam Judô. A série foi adaptada pelo roteirista e produtor Kim Joo Hwan, que também dirigiu a série.

Elenco

Interpretado por Woo Do Hwan (de “O Rei Eterno“, “Save Me” e “Meu País”), Gun Woo é um rapaz gentil, altruísta e disciplinado que sonha em dar orgulho para sua mãe e a protege de todas as formas. Ele é forçado a largar seu sonho após um incidente envolvendo-a e adentra no submundo do crime como maneira de vingança. O ator ganhou 10kg para se preparar para a série. Seu físico, aliás, ficou muito convincente como um boxeador. Pontos positivos pela dedicação.

Já seu amigo, Woo Jin, é um certo alívio cômico um tanto ganancioso, mas de bom coração. O ex-fuzileiro naval é interpretado por Lee Sang Yi (“Youth of May”, “Hometown Cha Cha Cha”, “Yumi’s Cells”, “Suits” e “Voice 2”). A amizade dos dois é o ponto forte da série, balanceando suas personalidades, mas que gradativamente se tornam uma só. A dublagem do personagem é uma das melhores coisas da série. Muito bem feita e dá um tom de humor com malícia brasileira.

Por último, no trio temos a Kim Hyeon Ju, interpretada pela Kim Sae Ron, que desapareceu de cena e mudou o roteiro original.

Os dois principais agiotas da série são interpretados pelos atores de peso Heo Jun Ho (extenso currículo destacando-se “Snowdrop”, “Come and Hug Me”) e Park Sung Woo (“Snowdrop” e, curiosidade, foi um taxista em “Pousando no Amor”).

Outra participação bem surpreendente é do idol Choi Siwon (“Revolutionary Love“), que apesar de carecer de uma atuação convincente em seus doramas de romance, aqui ele faz papel dele mesmo: um rapaz rico e bobo. Achei que suas cenas acabaram forçando a barra e saíram muito do tom que a série precisava, que é o problema de praticamente todas as séries que ele já participou… Fica ainda mais destoante com a atmosfera dos outros atores, mas eles conseguem elevar o nível e trazê-lo um pouco junto.

Por que personagem saiu da série?

Quando a menina do trio saiu, muitos espectadores ficaram se perguntando se aquela solução fazia sentido, já que a personagem tinha motivações fortes para continuar. Porém, isso estava longe da vontade da produção. Na verdade, a atriz se envolveu em um acidente de trânsito que virou uma imensa polêmica.

Em 18 de maio de 2022, a atriz dirigiu alcoolizada e bateu em um transformador elétrico, o que causou uma queda de energia em 57 lojas próximas, que ficaram sem funcionar por quase cinco horas. Foi revelado que seu nível de álcool no sangue era de 0,2%, o que ultrapassava o limite legal para a revogação da sua licença de condução. Ela foi condenada a pagar uma multa de ₩ 20,0 milhões de KRW (aproximadamente R$ 97.600).

Porém, as punições não pararam por aí: imediatamente os coreanos cancelaram sua carreira; ela perdeu o contrato com sua agência e foi a público se desculpar. “Isso nunca vai acontecer de novo. Desculpe. Lamento minhas ações e estou refletindo sobre elas. Parei de beber e vendi meu veículo. Sou o ganha-pão da minha família, mas tem sido difícil para mim sobreviver. Por favor, tenha misericórdia.” Porém, desde então não apareceu mais na indústria e foi vista trabalhando em um café.

A polêmica fez com que a série tivesse que ser editada. Como ela já tinha gravado várias cenas, eles optaram manter sua participação, mas deram aquele final para a personagem.

Ok, mas e sobre a série, é legal?

No começo, sim. Se fosse um filme, seria nota 10. Porém, o gênero não me agrada muito. Se você ama séries de ação, lutinhas e sangue, vai se divertir bastante. Mas se prefere algo mais psicológico, ou romance ou drama, vai ser difícil engajar muito por aqui. As lutas são bem executadas, têm coreografias belas e enchem os olhos de quem curte o gênero, além de contar com um esforço do diretor em destacar cores e criar o ambiente perfeito para imersão. Porém, no meio de tanas cenas de pura violência a história vai se perdendo.

Algumas cenas são muito empolgantes e te deixam angustiado (destaco a cena do apartamento, do metrô, a do sushiman, a do café…), mas com o passar da série, ficam arrastadas e repetitivas, até que, para inovar, trazem alguns absurdos bobinhos (arco e flecha?), cartunescos, revelando seu material de origem em quadrinhos.

Tudo poderia ser resolvido muito bem em quatro episódios. Os personagens não têm camadas, sendo maniqueístas e lineares até o fim. Não há uma jornada de transformação para quase ninguém aqui.

Em resumo, é um entretenimento agradável para quem curte filmes de ação – muito amigável para quem não conhece séries coreanas -, especialmente aqueles que adoram produções antigas asiáticas com lutas, mas está longe de um dorama complexo que justificaria sua posição na Netflix.

Nota:

Recomendações

Para ver uma série sobre pessoas em situação vulnerável que recorrem a agiotas e que tem realmente muita qualidade, realismo e boa história, veja My Mister.

Para mais lutinhas com vingança, veja My Name.