Primeiras impressões do “dorama brasileiro”: Além do Guarda-Roupa

Atualização em 22.7.2023

Chegou o primeiro “dorama brasileiro” na HBO Max. “Além do Guarda-Roupa” tem 10 episódios e conta a história de uma garota com ascendência coreana que detesta kpop, mas acaba atormentada por um portal para a Coreia em seu guarda-roupa.

Essa provavelmente é uma das únicas opiniões na internet que não receberam um único centavo da HBO, portanto, não são como as publi que você vai ver por aí. Aproveite porque não tenho laços com a produtora e nenhum motivo para falar bem nas minhas primeiras impressões!

A trama é original do serviço de streaming HBO Max, com direção de Marcelo Trotta, Sabrina Greve e Paula Kim, trazendo como protagonistas a fofíssima Sharon Cho e Woojin, um dos idols mais amados da Coreia.

Ator já foi vítima de anti-fãs obcecados

A história é complicada e cheia de mistérios, mas segundo as fãs do artista, o que houve foi o seguinte: Kim Woo Jin, talentoso dançarino e principal nome que fez parte do Stray Kids, deixou o grupo em 2019 “por motivos pessoais”, pois quis focar em sua carreira solo. Foi um enorme choque para todo o KPOP na época, porque ele era um dos nomes mais marcantes não só do grupo, mas do gênero e estava na época de um comeback e tour.

No ano seguinte (ao contrário do que divulguei aqui anteriormente), foi envolvido em denúncias que se provaram falsas pela polícia e não foram confirmadas, mas, após uma onda de hate na internet, muitas pessoas ficaram com essa impressão sobre o artista e me levaram a escrever a informação incompleta que deixou tantas fãs chateadas e tão indignadas ao redor do mundo. Inclusive, o boato partiu de uma brasileira que jamais o encontrou, o que piora ainda mais a situação.

Aparentemente, a escolha do ator para fazer parte do elenco foi muito acertada, porque ele não apenas foi vítima de anti-fãs, como tem uma horda de fãs extremamente calorosas que o seguem em tudo que ele faz e o amam muito. Então é possível que o dorama tenha muita audiência.

Além do guarda-roupa

Depois daquela bomba de Com Amor, Kitty, eu tinha muito medo de assistir um “dorama” com “brasilidade”, já que a falta de alguns elementos de brasilidade (como o cunho sexual) é o elemento que faz com que muitas pessoas prefiram assistir a kdramas em vez de novelas. Porém, um pouquinho de borogodó numa mocinha poderia fazer maravilhas, e foi assim que dei o play apesar do maior preconceito do mundo e… para minha surpresa, “Guarda-roupa” é bem bonitinho e não é horrível!

O que gostei?

A protagonista me gerou muita simpatia. A atriz além de ser uma gracinha mal-humorada, parece muito REAL. A personagem não é uma tonta deslumbrada, pelo contrário, é uma mocinha bem de kdrama: batalhadora, sofrida e com um sonho especial. Não está preocupada em arrumar um namorado, ela quer dançar balé! Em poucos segundos já estava torcendo muito por ela e adorei o trabalho da Sharon Cho. Em entrevistas, a artista disse que sofreu preconceito por ter ascendência asiática, e ela traz isso com muita verdade na série. A personagem tem camadas por causa desse olhar. O Woojin também é bem carismático e faz um bom trabalho como ator. O ship é fácil de gostar logo nos primeiros episódios.

No elenco, também estão os membros do grupo de K-pop Newkidd: Jin Kwon (Para a Minha Estrela) e Lee Min Wook (O Som da Magia); e o ex-membro do grupo XRO, que acabou em 2022, Yoon Jae Chan (Um Novo Voo). Todos são novatos da atuação, mas me surpreendi pelo carisma e a tentativa da história de trazer uma diferença clara entre suas personalidades, como uma visual novel, aos moldes de Beautiful You.

A trilha sonora é bem colocada, a musiquinha do ACT é até viciante. A edição está de parabéns por não bombear de músicas em momentos aleatórios. Aqui ela conta uma história e está bem de acordo. Pontinhos positivos. Escute abaixo a música (achei realmente muito boa, mas não achei no Spotify).

A trama

Sim, o começo é bem bobinho, mas diverte: Carol sonha em ser uma bailarina, mas o mundo em volta dela só quer falar de K-pop. Introvertida e cansada de estereótipos, junta dinheiro para participar de um concurso, apesar de nem sua professora, ou sua tia (aliás, ótimo trabalho da Júlia Rabello, do Porta dos Fundos), apoiá-la. Para piorar, do seu guarda-roupa sai um idol de kpop arrogante e muito folgado que fica atormentando sua vida, mas pode ajudá-la a melhorar na dança.

É uma comédia fazendo várias críticas sobre fãs obcecados (algo com que os idols coreanos sofrem muito, especialmente os haters) e fetichização dos coreanos proporcionada pela onda Hallyu, mas é feito de um jeito bem-humorado e sem se levar a sério (ao estilo Barbie de ser), ao mesmo tempo que se esforça para valorizar o trabalho técnico. É bem interessante.

Claro, há algumas bobagens, como o fato de que o idol atravessa o portal e está super bem habituado com isso, ou a morte da mãe bem dorama dos anos 2000, mas… tudo isso dá para relevar bastante e entrar no clima de uma série fofa de fantasia. É tudo que X.O Kitty poderia ter sido e não foi.

Fui pronta para achar horrível, mas a série brasileira acerta em alguma essência do dorama: não é sobre uma protagonista obcecada com um romance sem noção, mas ela tem seus objetivos, uma mocinha sofrida que esbarra com um bonitão arrogante e ali gera uma faísca de raiva, inimigos a amantes. Muito bacana.

Outro ponto importante é que a protagonista retrata o que muitas pessoas com pais asiáticos passaram e ainda passam no Brasil. Todos acham que ela é obrigada a gostar de K-pop e K-drama, o que a faz se afastar cada vez mais do estereótipo, que é um movimento oposto da série americana (que reforça os estereótipos).

Não precisávamos de um dorama brasileiro, mas como uma novelinha, é uma graça! Vou continuar assistindo sem esperar nenhuma obra-prima, apenas curtir um almocinho e ver onde vai dar. Achei fofinho e está me divertindo! Bem adolescente e me lembra o que poderia ter sido Heavenly Idol.