O Rei Eterno, ou “The King: Eternal Monarch” (“O Rei: Monarca Eterno”), é um drama exibido no Netflix e na SBS, composto de 16 episódios, sobre dois mundos paralelos: a República da Coreia (Coreia do Sul tal qual conhecemos) e o Reino da Coreia (na qual nunca houve uma separação e mantêm uma monarquia) que se entrelaçam quando um rei decide cruzá-los com a ajuda da metade de uma flauta mágica. O problema é que seu tio, um homem ambicioso e cruel, possui a outra metade e pode fazer o mesmo para transformar e colocar em perigo os dois mundos. Confira aqui as primeiras impressões dos episódios iniciais.
Parte técnica
Com um orçamento graúdo, a cinematografia é belíssima, especialmente em cenas nas quais o tempo para. Esteticamente, as cenas combinam cores e enchem os olhos. A ação é espetacular. As lutas são empolgantes, a direção (comandada por Baek Sang Hoon, de Descendentes do Sol, da mesma autora, e School 2015) das mais explosivas dão a sensação de grandiosidade e urgência necessárias. Há um uso recorrente do recurso de contar uma cena pela metade, depois recontá-la com todos os detalhes. Isso acontece em todos os episódios, especialmente nas cenas que os encerra. É divertido, mas muitas cenas perdem o impacto quando são explicadas no todo e voltam a esfriar o clima no inicio do próximo – o ritmo, aliás, é o pior defeito da série, conforme falarei abaixo.
A trilha sonora, que eu sempre cito como uma pitada fundamental das histórias de Kim EAutora de A Lição, confira doramas de Kim Eun Sook: criadora de Goblin, Herdeiros e O Rei Eternoun Sook, foi, infelizmente, subutilizada e apesar de ter músicas belíssimas, fica difícil lembrar-se de mais de uma delas, pois não houve quase nenhuma cena impactante que elas tenham aparecido. Talvez isso pudesse ter despertado um pouco mais as paixões da audiência.

A trama
Com uma narrativa bem ao estilo “slow burn”, O Rei Eterno não é para imediatistas. Os episódios vão trazendo elementos que vão construindo lentamente o momento principal que é visto na primeira cena do dorama. A motivação dos personagens e o quanto eles realmente sabem vai sendo mostrado bem aos poucos, mas, infelizmente, não em uma crescente.
A montagem do quebra-cabeça leva tempo, mais precisamente 11 episódios para que a história comece a engatar, mas só atinge sua ebulição nos últimos – e fica cada vez mais louca quanto mais se aproxima do fim, ficando difícil até de acompanhar, até que chegamos ao episódio 15, que é o mais corrido e aparentemente sem sentido de todos, pois muita coisa que poderia ter sido distribuída em episódios morosos é simplesmente jogada em cenas picotadas que deveriam ser dramáticas.
Durante toda a duração de O Rei Eterno, fica a sensação de que a história “ainda está para começar” – e está mesmo, mas embora o desenrolar seja recompensador e inesperado o suficiente em alguns momentos, os dois últimos episódios são um balde de água gelada no clima ebuliente e trazem algumas cenas confusas. Era difícil determinar exatamente como seria o fim mesmo há uma semana do término do dorama, o que poderia ser muito positivo, mas no caso era apenas um sinal do anticlímax por vir.
O casal
Se o suspense é uma construção lenta, o romance segue o processo quase inverso. Apesar de também ser moroso, começa já no auge do amor, em um contato forçado através de uma obsessão do rei pela tenente. Aqui poderia ter sido explicado por uma junção de passado – e a atitude seria compreensível, mas isso não foi feito de forma muito consistente. A protagonista não se apaixona de primeira, o que eu achei muito positivo, mas não consegui acompanhar a evolução dos sentimentos dela.

Parando para analisar o problema, conclui que parcialmente foi uma comparação injusta, mas inevitável: Ta Eul e Lee Gon não me fizeram torcer por eles como torci por um bom final de Eun Tak e Kim Shin (de Goblin – e olha que eu detestava a personagem) em nenhum momento. O casal funciona, é até fofo e vai melhorando quanto mais convivem, mas – com a exceção de uma das melhores cenas de contato físico já vistas em doramas (aquela do pescoço sim, meu-se-nhor-me-abana) – não shippei com a minha alma.
Elenco
Os atores estão ótimos, melhores aqui do que em séries anteriores. Percebi Lee Minho maduro, um oppazão que voltou com tudo em seu primeiro drama depois do exército. Ele é sexy, seguro, esperto, convicto e inteligente. Um protagonista confiável, distante de Kim Tan, Joon Jae ou Junpyo, mas talvez falte carisma. Kim Go Eun me surpreendeu muito positivamente, abandonando a carente Eun Tak para uma protagonista forte, na maioria das vezes inteligente e com algumas cenas de choro muito reais.
Nesse meio de campo há também outros personagens muito queridos: Woo Do Hwan (“Meu País”, “Mad Dog”, “Tempted”) merece todos os créditos por uma atuação tão boa que faz você acreditar que Jo Young e Jo Eun Sup são interpretados por pessoas diferentes. Ele rouba a cena completamente, como o Ceifador de Goblin. A Kim Young Ok, que faz a senhora Noh, da vontade de colocar num potinho – e já foi avó do personagem do Minho em Boys Over Flowers. E a Kim Yong Ji foi uma surpresa boa, por ter sido um rosto que apareceu calado em Mr. Sunshine e agora em um ship tão fofinho.
O ator que interpreta Kang Shin Jae (Kim Kyung Nam) recebe uma linha importante da história, mas ficou um pouco jogado, além de ter aquele cheirinho de second lead desde o começo, pobrezinho. A vilã detestável da Jung Eun Chae, a ministra Koo, mostrou-se uma mulher muito inteligente e determinada no começo, mas sua personagem poderia ser melhor explorada, jamais mostrando a que veio e acabando ofuscada pelo grande vilão de Lee Jung Jin (esteve em O K2 com outro personagem ótimo), que interpreta o tio, Lee Im, e faz o melhor que pode em trazer seriedade com o roteiro que, em outras mãos, poderia cair no caricata cômico.
Todo elenco de apoio é bastante carismático e, apesar de suas personas serem bastante lineares, é possível se importar bastante com eles.
Polêmicas dos bastidores

Mesmo antes de começar, O Rei Eterno sofreu ataques direcionados a seu elenco, mais especificamente a Jung Eun Chae. A atriz virou alvo na internet após um escândalo voltar à tona, por ter se relacionado – há dez anos – com o cantor Jung Joon Il, autor de famosas trilhas sonoras (“First Snow”, para Goblin), enquanto ele era casado. O tema foi inflamado pela equipe do cantor, enquanto a assessoria de imprensa da atriz botou panos quentes na polêmica e disse que o assunto era privado e acabou há dez anos.
Além disso, o Rei também coleciona alguns haters na internet desde o primeiro dia que foi ao ar. Mesmo com sua alta produção, aparentemente não impressionou a audiência coreana, não conseguindo reter números acima de 10%, segundo a Nielsen. No começo, acredito que faltou paciência dos críticos para esperar a história chegar a algum lugar. Creio que foram exageradamente duros esperando por uma obra-prima épica como suas antecessoras, além de ter a ansiedade no alto pela volta de Lee Minho e da protagonista de Goblin. Mas eles não estavam completamente errados…
Qual é o final?
Vou falar o spoiler do final de O Rei Eterno coberto por uma caixa colorida de texto. Selecione e copie para saber, por sua conta e risco:
ALERTA DE GRANDE SPOILER
O rei volta para a noite em que tudo começou, mata seu tio, recupera o instrumento e abre vários portais no tempo, corrigindo o fluxo dele. Por causa da mudança no passado, todas as substituições feitas pelo tio não aconteceram, então tudo que assistimos simplesmente não existiu. Porém, Ta Eul consegue lembrar-se de tudo, porque ficou naquele limbo de tempo parado (onde tem as flores, as fotos e os balões) , então ele a reencontra e o casal passeia casualmente por várias eras. Porém, nada de virar a Rainha da Coreia, infelizmente.
FIM DO SUPER SPOILER
Mas se você só quer saber se o final é feliz ou não, ele é:
Feliz.
Se acredito que terá segunda temporada? Não. Tanto pela audiência quanto pelo final, que não é nada aberto.
Coloco na lista ou deixo pra lá?
Sendo bem direta, o Rei Eterno é um dorama que podia ser melhor, mas até que é muito bom, uma nota por volta do 8 considerando o todo. Além de ser belo esteticamente, tem uma história instigante, diferente, complexa (um pouco demais) e maratonável, melhor do que muitos doramas que estão hoje no catálogo do Netflix, ainda mais se considerarmos viagem no tempo.
Avaliando o conjunto, mesmo que sua história não seja do gosto de todo mundo, o Rei é, no mínimo, diferente. Não é excepcional, mas também não é uma grande decepção. É bem feito, bonito, interessante e muito fora da curva do convencional, construindo, aos poucos, uma boa história – com alguns furos que poderiam ser evitados se explicados com calma – e um universo capaz de gerar saudade e que certamente não veremos tão cedo em outra trama.
A química do casal é bastante criticada, mas para mim o valor da história fica com o suspense, a busca pelas contrapartes dos personagens em cada mundo, a resolução do enigma por trás dos mundos que conversam entre si e qual seria o final, muito possivelmente triste, deles. O imenso problema da série é o ritmo, que estraga um pouco desse mistério e da capacidade da trama de envolver.
Se você é fã de outros trabalhos da autora (em especial Goblin, Descendentes do Sol ou Mr. Sunshine), dê uma conferida, sem esperar ser uma “segunda temporada” de nenhum desses ou colocar a barra de expectativa lá em cima. Se você nunca viu nada dela e gosta do gênero dorama sobrenatural, existe uma chance mais alta ainda de acabar gostando. Para dorameiros gamers: é mais ou menos um dorama de Ni no Kuni, mas mais voltado para o cotidiano.
Por último, se sentir saudade de algum dos atores, Tem vários doramas deles no Netflix, veja aqui a listinha.
Fiquei triste pelo fato de não terem se casado, assim não podendo terem filhos e ter o sucessor do rei, pela história de amor que foi linda, faltou um final mais intenso.
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Olá.. chegando tarde.. queria saber porque o príncipe buyengeon não voltou a vida?
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Vc traduziu bem minhas sensações sobre essa série. A fotografia é bonita, o tema interessante , mas não engatou…
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